ISSN 2359-5191

26/09/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 93 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Filme-denúncia sobre assassinato de travestis é lançado em SP

São Paulo (AUN - USP) -Dos 17 entrevistados para o documentário "Sexualidade e Crimes de Ódio", dirigido por Vagner de Almeida, quatro foram assassinados antes do lançamento. O filme conta a história das travestis que trabalham na beira da Dutra ou nas esquinas da baixada fluminense e têm de enfrentar o ódio e a intolerância dos que não admitem formas diferentes de se amar.

Pontuado por depoimentos de travestis, personagens locais, ativistas do movimento GLBT e do próprio diretor, o média-metragem busca na inquisição e no nazismo as origens da discriminação imposta hoje às travestis. Dezenas são assassinadas todos os anos, em sua maioria de forma bárbara: facadas, tiros, enforcamento, amarradas e arrastadas por carros. Isso no mesmo país que sedia a maior parada gay do mundo.

"O filme é uma denúncia aos poderes públicos, que parecem não estar interessados em resolver o problema", disse Almeida após a première do documentário, organizada no auditório do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo no final de agosto. O lançamento no Rio de Janeiro está previsto para o dia 3 de novembro, no Centro Cultural do Banco do Brasil.

Uma das personagens é Naiara, 20 anos, entrevistada para outro documentário de Almeida ("Basta um Dia", 2006). Ela relata, com fala calma e doce, que começou na profissão aos 14 anos, e que desde então a violência faz parte do seu cotidiano. "É comum os clientes apontarem armas para exigir programa de graça ou sem camisinha", diz. "Aqui consigo meu sustento, mas quando entro no carro não sei se vou voltar para casa". Naiara foi assassinada poucos meses depois, e as manchetes da imprensa local revelaram, mais uma vez, a discriminação: "Traveco é executado a tiros", diz uma, "Uma quase mulher é executada na Dutra", estampa outra.

O mito da nação que acredita respeitar a diversidade, mas mascara os preconceitos, vem à tona na voz de Rosângela, evangélica. "Mesmo que você seja contra a homossexualidade, deve amar o homossexual", afirma. Mas logo emenda: "Além de respeitar o homossexual e as travestis, precisamos saber evangelizá-los, pois Cristo veio para curar quem está doente". Já Sandra, funcionária de funerária, atesta que a violência contra as travestis está crescendo na região e defende a diversidade. "Todos somos filhos de Deus, quem somos nós para julgar o outro?", diz.

O filme foi gravado na baixada fluminense, no Rio de Janeiro, mas o cenário se repete em outras regiões do país. Segundo relatório da ONG Grupo Gay da Bahia, o Brasil é o campeão mundial em crimes homofóbicos. Em 2007 foram 122 assassinatos, um a cada três dias. Em segundo lugar vem o México, com 35 assassinatos. Segundo a ONG, os números revelam que a chance de uma travesti ser assassinada é 259 vezes maior que a de um gay.

"Sexualidade e Crimes de Ódio" é o terceiro filme da trilogia de Almeida sobre a realidade das travestis (após "Borboletas da Vida", 2004 e "Basta um Dia", 2006) e foi co-produzido por Richard Parker, diretor do Centro de Gênero, Sexualidade e Saúde da Universidade de Columbia (EUA), professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS.

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