São Paulo (AUN - USP) -O tradicional exame de urina para detectar o uso de substâncias proibidas pode estar com os dias contados. O Professor Maurício Yonamine - do Departamento de Análises Clínicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP - têm trabalhado na preparação de amostras alternativas para as análises toxicológicas. São materiais pouco convencionais cujo estudo pode trazer resultados muito interessantes: cabelo, saliva, unha, suor e até mesmo fezes de recém-nascido têm sido usadas no laboratório. "Foi nos últimos 20 anos que se começou a pensar em estudar outros tipos de amostra", diz o professor, explicando as vantagens de cada um dos métodos alternativos: "a urina te dá informação do uso de substâncias a dias atrás, o sangue dá informações de horas atrás, o cabelo pode te dar informações de até meses atrás".
Não apenas as amostras utilizadas são de natureza alternativa, a maneira de prepará-las também costuma ser sofisticada. Um método recente utilizado no laboratório é a micro-extração: "são pequenas fibras que são colocadas na amostra aquosa e que conseguem retirar as substâncias procuradas sem usar solventes", fala Yonamine sobre as vantagens da técnica. "A gente procura trabalhar com métodos que não danifiquem as amostras e que reduzem o impacto no meio ambiente", explica o professor, justificando o estudo.
Especializado em Anti-Doping Esportivo e no Controle do Uso de Drogas no Ambiente de Trabalho, o professor Maurício Yonamine também adota posições muito assertivas no tocante ao vício em substâncias psicoativas: “Como toxicologista e farmacêutico da área de saúde, eu considero o uso de drogas uma doença, a princípio problema de saúde pública. Antigamente se pensava que em problema de caráter, caso de polícia, mas esse conceito está mudando e eu acho positivo. Enquanto tem preconceito é difícil tratar”. Quando o tema é liberalização, o professor já é mais cauteloso: "Liberar não significa resolver o problema, o álcool é uma droga lícita, e é a que mais causa problemas (...) no momento não há motivos para a legalização, nem de maconha". Questionado sobre uma terceira via, entre a repressão e a liberalização, o professor conclui: “Uma sociedade melhor é uma com menos pessoas usando substâncias psicoativas (...) precisamos arranjar formas de conviver com elas [as drogas], tentar conscientizar as pessoas, a repressão total também não funciona".
O Laboratório de Análises Toxicológicas, fundado em 1971, foi pioneiro no Brasil no teste Anti-Doping, realizado a partir de 1974 sob encomenda da Federação Paulista de Futebol. A partir de 1992, o Laboratório também passou a realizar um programa de Controle do Uso de Drogas no Ambiente de Trabalho, esse sob encomenda da Esso Brasileira de Petróleo.