São Paulo (AUN - USP) -Incentivar a abordagem de temas que realmente interessam à população, mas ficam em segundo plano na grande imprensa brasileira. Assim, o professor do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da USP, Dennis de Oliveira, define a o objetivo do recém-formado Grupo de Jornalismo Popular e Alternativo (Alterjor), no qual ele é vice-coordenador.
Oliveira conta que há muita confusão quanto ao conceito de jornalismo popular. O professor descarta qualquer relação com os temas dos ditos jornais populares, como o Diário de São Paulo e o Agora, que vê apenas como um veículo de orientação mercadológica, onde não há espaço para reflexão crítica. “O conceito de popular que a gente trabalha são os assuntos que afetam a população diretamente. No [jornalismo] alternativo, o protagonista é o povo”, afirma.
Como exemplo de pauta popular, ele citou a compra de terrenos no litoral do Nordeste por estrangeiros. “O prejuízo para as comunidades locais, é grande, principalmente daqueles que vivem da pesca. Mas a grande imprensa prefere falar da campanha presidencial norte-americana”. O professor não despreza a importância da política norte-americana no país, mas acredita que ela é super-dimensionada em relação ao que realmente interfere a população mais pobre.
Dennis é pessimista quanto à grande imprensa. Ele percebe uma concentração cada vez mais crescente dos veículos de comunicação, o que causa uma uniformização da abordagem. E vê o jornalismo alternativo como a única saída para a diversidade de temas, colocando os excluídos como protagonistas da narrativa jornalística. “Além de aumentar a diversidade de informação para a população, o jornalismo alternativo exerce pressão para que a grande imprensa mude um pouco a sua pauta”.
Viabilidade é difícil
Indagado sobre a viabilidade financeira de um veículo popular alternativo, o professor reconhece a dificuldade, mas cita bons exemplos no País, como o Le Monde Diplomatique Brasil e a revista Fórum. E vê a internet como um modelo que pode diminuir drasticamente o custo e os obstáculos para se conseguir trabalhar, visto que o trabalho para se abrir uma rádio comunitária no país é enorme, e as TVs e rádios universitárias também não contribuem. “A Rádio USP parece comercial. Ela poderia ser mais experimental, inovadora”.