ISSN 2359-5191

07/10/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 99 - Educação - Faculdade de Educação
Educação indígena precisa considerar a diversidade

São Paulo (AUN - USP) -A dificuldade em se lidar com a diversidade é grave quando se trata da educação que terão os 227 povos e 180 diferentes línguas indígenas que existem hoje no território brasileiro. Os dados são da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP), que colocou este assunto em discussão na VI Semana de Educação 2008. O pesquisador Daniel Munduruku, diretor presidente do Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual (INBRAPI) e membro do povo indígena Munduruku, diz que a contribuição indígena é ancestral da nossa brasilidade e que é imprescindível para a educação levar em conta a diversidade dos povos.

Antes da chegada do português, já havia no Brasil povos indígenas com palavras, crenças, modos de pensar e de agir que até hoje estão presentes na cultura brasileira. "O índio é um elemento fundamental da identidade nacional", afirma Munduruku. No entanto, há importantes questões nas quais o papel do indígena ainda não foi situado. As dificuldades com demarcação das terras são apenas um exemplo conhecido e o exercício de sua cidadania passa por outros graves empecilhos. "Na política, na cultura, na arte, na educação, o lugar dos índios está mal definido. O começo disso é tratá-los como se fossem iguais, sem respeitar a diversidade", diz Munduruku. Segundo ele, a consideração pela diversidade diz respeito não apenas aos índios, mas a todos os brasileiros, pois nosso povo é constituído de diversas origens.

Munduruku conta a sua própria vivência na educação dos anos 70, no primeiro e segundo grau (antigos ensinos fundamental e médio). Ele diz que a política brasileira para os índios durante a ditadura militar era de integrá-los ao povo brasileiro, fazendo-os abandonar seus antigos hábitos. "Os professores ensinavam o português e diziam que nossos idiomas originais eram inferiores, assim como nossas maneiras de ser e pensar. Entre os jovens, era cada vez mais freqüente a vergonha de ser índio, a vergonha de ser aquilo que é, que em casos extremos levava até ao suicídio", diz.

Ele acrescenta que tem grandes receios com a aplicação da lei que torna obrigatórias as aulas de história e cultura do povo indígena para alunos do ensino médio e fundamental das escolas públicas e particulares do país, que entrou em vigor em março de 2008. "As primeiras pessoas que precisam ser educadas são os professores, porque muitos deles até hoje reproduzem a idéia de índio que era passada nas escolas dos anos 70. O educador precisa entender que nós não somos uma coisa única. Não só o índio, mas nós todos, humanos, não somos uma coisa única", finaliza ele.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br