São Paulo (AUN - USP) -“Os limites entre pichação e grafite podem ser muito tênues”. É o que pensa Tadeu Chiarelli, professor de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. O professor não acredita na separação que a sociedade civil quer fazer entre uma modalidade e outra de pintura nas ruas, mas acredita que os dois podem, sim, serem considerados arte.
O grafite – também conhecido como graffiti, termo derivado do italiano – é a inscrição de figuras nas ruas, geralmente ocorrendo em muros e paredes. Por muitos anos considerada uma expressão sem importância, o grafite hoje é um símbolo da contracultura no mundo todo, sendo caracterizada como a possibilidade dos marginalizados de se expressarem artisticamente.
É comum que se determine a diferença entre aquilo que é grafite e aquilo que é meramente pichação. A pichação serviria, basicamente, como uma marcação de território utilizada por gangues de rua, e também como forma de simples vandalismo. A pichação é definida como crime, previsto na lei, diferentemente do grafite, mas o professor da ECA não vê assim. Ele acredita que não há possibilidade de determinar exatamente aquilo que é pichação e aquilo que é grafite.
“Apesar do grafite fine arts tanto ter deslumbrado nossos comerciantes de arte e os novos colecionadores, ele pode ter um caráter desestruturador que não se adequa à domesticação que querem dele fazer”, afirma Chiarelli. Portanto, o que acontece para separar o que é grafite do que é pichação é a inserção na sociedade daqueles considerados grafiteiros. Assim, para que alguém deixe de ser pichador e torne-se grafiteiro, basta ter a permissão da lei. Nesse sentido, a arte propriamente dita é deixada de lado.
O professor Chiarelli acredita que o grafite é, sim, integrante das artes plásticas. Para ele, a arte pode ser manifestada em qualquer meio, seja ele dentro de grandes galerias ou nas paredes de comunidades carentes. Ele explica que não é a modalidade técnica que importa nesse caso, mas, exatamente por isso, o grafite não poderia ser encaixado em algum movimento artístico tradicional.
Muitos acreditam que a grande função do grafite é a inclusão social. Essa expressão artística é vista por alguns como uma forma de resgatar os excluídos e conseguir inseri-los na sociedade. Um dos meios que torna esse resgate possível é fazendo o grafite ser uma atividade rentável, pensando-se, por exemplo, em turismo que inclua a apreciação do grafite.
O professor Chiarelli concorda em termos. Para ele, todos os elementos que remetam à arte devem ser incluídos em uma trilha turística. O caráter efêmero do grafite é o que o torna mais interessante na opinião do professor e, portanto, ele se preocupa com a “institucionalização” da modalidade de arte, que faria ela ser permanente, cessando esse constante movimento que é a sua característica.