São Paulo (AUN - USP) -O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, recentemente assinado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, é apontado por críticos como o indício de crise em um dos principais pilares da sociedade brasileira: a educação. Por institucionalizar a padronização da estrutura escrita entre os paises falantes do idioma, ou seja, por se tratar de uma mudança artificial e imposta, eles afirmam que o Ensino Público não está preparado para alterações em seu conteúdo e que as novas regras confundiriam professores e alunos, defasando ainda mais a sistema educacional no país. Contudo, o lingüista e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, José Luiz Fiorin nega esses argumentos e defende que “a reforma ortográfica não afeta o Ensino Público ou a educação em geral no Brasil”.
Segundo Fiorin, nenhuma instituição hoje está pronta para se adaptar às mudanças, no entanto, isso se deve a novidade da consolidação do acordo. Não há nenhuma dificuldade para a aplicação das novas regras, pois os órgãos governamentais já estão preparando o material didático para suprir as necessidades da população. “O período de transição não apresentará grandes dores. As alterações são muito pequenas. E a maioria das novas regras já esta incorporada na comunicação das pessoas. O acordo serve simplesmente para consolidar e padronizar a escrita. Logo, livros e cadernos didáticos com as normas são suficientes”, afirmou.
Quando questionado sobre a razão pela qual não foi estipulado um acordo que ajudasse na melhora do ensino, José Luiz Fiorin descarta uma reforma mais profunda, uma vez que “as pessoas não conseguiriam abarcar tantas regras. Acabaria se tornando uma nova língua ou um idioma morto”. Em seguida, o acadêmico apontou que os equívocos na formação dos brasileiros não residem na forma de escrever as palavras, mas, de fato, na construção de orações. “Ortografia possui uma função secundária no ensino de português. Embora eu veja muitos erros na escrita, os problemas maiores são de sintaxe. As pessoas redigem períodos sem sentido algum e chegam ao final do ensino médio sem a capacidade de compreender textos simples. Esses são problemas sérios. Isso deve melhorar. O trabalho com a ortografia é eficiente e continuará assim”, explicou.
O lingüista lembra ainda que na reforma ortográfica de 1971, quando, entre as medidas, foram extintos os acentos sub-tônicos e muitos acentos diferenciais, não houve grandes problemas para a aplicação prática ou para a educação. “Eu ainda era estudante na época e a adaptação foi natural. As pessoas pouco foram afetadas e o ensino continuou o mesmo tanto que poucos lembram de como era a ortografia antes da reforma”, finalizou.
A reforma
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi desenvolvido pelos integrantes do CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa): Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste.
O Brasil será o primeiro país a implementar as regras oficialmente. A partir de 1º de janeiro de 2009, as mudanças deverão ser seguidas paulatinamente. Contudo, após quatro anos, período de transição, as normas ortográficas instituídas pelo acordo serão de uso obrigatório. As mudanças devem atingir aproximadamente 0,5% das palavras adotadas no Brasil. Entre as novas regras estão a extinção do trema e dos acentos diferenciais, além de rearranjos na hifenização.