São Paulo (AUN - USP) - A Semana da África, que acontece entre os dias 20 e 25 de maio, é um evento em crescimento. Neste ano, reúne palestras, exposições, apresentações musicais e até um desfile de moda ligado à cultura do continente. A Semana é o evento mais importante do Fórum África, entidade que tem como objetivo divulgar as tradições africanas, organizando debates e eventos culturais. Mas não é seu único projeto.
O arquiteto Cesar Manuel Ferrage de Brito, secretário geral da entidade, pretende, no futuro, auxiliar comunidades do continente, levando até elas técnicas simples que ajudariam na melhoria da qualidade de vida.
Morando no Brasil, ele percebeu que itens comuns de nosso cotidiano poderiam contribuir muito se levados à África, sem destruir as culturas locais. “A cultura brasileira é mais próxima da africana. A cultura européia é mais presente, mas apenas para os ricos, nas grandes cidades. Esse modelo europeu de grandes empreendimentos fracassou. E nós continuamos a importá-lo”.
Como exemplo, Brito, que é natural da Guiné, fala da armazenagem de água. “Nas aldeias africanas, as pessoas guardam a água em grandes vasos, muito parecidos com os filtros que temos aqui. Depois de beberem, as pessoas devolvem a caneca dentro do vaso. Isso pode trazer doenças. Nossa idéia é levar estas torneiras de filtro para lá e instalar para eles, ou ensiná-los a fazê-las”.
Brito cita também o caldo de cana. “Na Guiné está cheio de cana. Mas ou a gente sorve ou destila. Não se faz garapa. Uma máquina de caldo de cana ia fazer o maior sucesso!”, diz.
Seu compatriota, o geólogo e pesquisador do IEA (Instituto de Estudos Avançados da USP) Orlando Cristiano da Silva, cita outro exemplo. “Aqui as pessoas fazem compota de todo tipo de fruta. Na Guiné, perde-se manga e caju, de tanto que tem. Podiam muito bem aprender a fazer compotas que conservariam as frutas no açúcar”.
Silva dá outro exemplo ainda mais claro. “Veja que eu trabalho com geologia. Mas tive que viajar para o interior do Brasil para descobrir que, para fazer tijolo, não é preciso ter uma grande indústria. Uma represa de água e um forno e já se pode produzir. Os portugueses construíram uma fábrica de tijolo gigantesca na Guiné que não deu certo. Hoje, a Guiné importa tijolo, e está cheia de argila. Para que usar a técnica européia?”
O problema é que o Brasil não tem mostrado interesse pela África. “Você tem um mercado de 700 milhões de pessoas que importa praticamente tudo. E o Brasil não despertou ainda para isso”, diz Orlando. Segundo ele, as poucas informações divulgadas no Brasil sobre a África são distorcidas; mostram apenas as catástrofes do continente. O projeto do Fórum África é reverter este quadro.
A história da entidade teve início em 99, a partir de um encontro de representantes de países africanos em São Paulo. Em comemoração ao dia de Fundação da OUA (Organização para a Unidade Africana), 25 de maio, eles organizaram uma palestra, que obteve grande sucesso. Para que a iniciativa não parasse por aí, foram incentivados a consolidar o grupo. Constituíram então o Fórum África, que organiza a cada ano eventos maiores em torno do 25 de maio. Orlando lembra que, curiosamente, essa data não é importante dentro da África. Mas fora do continente, as diferenças acabam. Predomina o sentimento de unidade.
Atualmente, nove países participam. Para boa parte dos membros, o contato na USP é a porta de entrada – afinal, a maioria vem para cursar o ensino superior. Muitos dos que voltam vêm ocupando posições de destaque em seus países.
Otimismo
A abertura oficial da semana, na segunda-feira, foi marcada por uma apresentação da cantora lírica Glória Saraiva e por uma palestra com o professor Kabengele Munanga, presidente de honra do Fórum África. Após traçar um panorama histórico da situação africana, o professor mostrou otimismo com o futuro do continente. “Eu vejo esperança, por toda a experiência que foi acumulada. Colocou-se fim ao tráfico, à escravidão, à colonização, ao apartheid. Apesar das dificuldades, as perspectivas prometem”, disse.
Munanga aponta como itens mais importantes para o desenvolvimento africano a paz, o investimento em educação e tecnologia, a estruturação de governos competentes e honestos, a busca por capitais e a integração. Ele também reforçou a importância da colaboração brasileira. “Vocês têm uma tecnologia desenvolvida para as condições de terceiro mundo, que nós podemos adaptar”.
A abertura oficial serviu também como evento de lançamento do site do Fórum África (www.forumafrica.com.br), no qual podem ser encontradas mais informações sobre a instituição.