São Paulo (AUN - USP) -Normalmente começa de forma inofensiva: um jovem se vê em um grupo que lhe oferece um cigarro. Para não se sentir deslocado e ser visto como “careta”, aceita. A cena, entretanto, se repete. Logo se torna um usuário freqüente do tabaco e passa a fazer parte de uma triste estatística. Entre 30% e 40% dos jovens entre os 15 e os 19 fazem uso recorrente do fumo. Há ainda, porém, outros motivos para o ingresso na vida de fumante como a necessidade de obtenção do prazer imediato, a influência de parentes tabagistas e, às vezes, problemas domésticos, tais como conflitos com os pais.
Em palestra no Museu de Anatomia Humana da Universidade de São Paulo, João Lotufo, médico pediatra e coordenador do projeto antitabágico do Hospital Universitário da USP, revelou que, apesar da maioria esmagadora das crianças de 7 a 10 anos reprovar o fumo, incríveis 5,6% já tragaram um cigarro, e que 1,55% já fumaram um por inteiro. O número cresce de forma assustadora na faixa dos 11 aos 14 anos, quando 21,6% já tragaram e 4,9% já fumaram. Segundo ele, isso ocorre devido a uma permissividade por parte dos pais, que não reprimem esse comportamento.
Isso acarreta um problema muito sério: o vício precoce. Um em cada três fumantes se torna dependentes do cigarro. O índice é surpreendente quando comparado com outras drogas ilícitas. A cocaína e a maconha viciam apenas um em cada nove usuários. Este dado ajuda a explicar o motivo pelo qual 50% dos fumantes apresentam um grau de dependência acima da média, e 5% demonstram uma adicção fortíssima e incoercível. Para Lotufo, esses índices são aproveitados pela indústria tabagista, que vincula o sucesso comercial à dependência da nicotina.
O vício, no entanto, não é apenas neuro-farmacológico. Há também a dependência psico-comportamental, quando o tabaco passa a fazer parte da vida do fumante de forma que ele, por exemplo, não saiba o que fazer com as mãos se não estiver segurando um cigarro. Nos casos da adicção leve, muitas vezes ela é apenas comportamental, sendo mais fácil de ser abandonada.
Outro problema abordado foi o fumo passivo. Dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer) revelam que sete pessoas morrem por dia no Brasil em decorrência do tabagismo passivo. Além disso, a fumaça inalada pelo não-fumante adulto provoca um aumento de 25% das chances de um ataque cardíaco e de 26% do desenvolvimento de um câncer de pulmão. Em crianças, entretanto, causa ataques de asma, bronquites e infecções de ouvido, além de aumentar em duas vezes a possibilidade de uma morte súbita em recém-nascidos.
O médico ainda afirma que hoje a nicotino-dependência é considerada uma doença e que, como tal, deve ser tratada. Para isso, ele recomenda a busca de ajuda farmacêutica, por meio de medicamentos que inibam o impulso de fumar como adesivos repositores de nicotina, gomas de mascar e a bupropiona, um medicamento antidepressivo. O Hospital Universitário oferece esse serviço de apoio gratuitamente ao tabagista que pretende largar o vício.
Site: www.tabagismo.hu.usp.br