São Paulo (AUN - USP) -No desenvolvimento de métodos de pesquisa, certos usos se tornaram tendência para determinados campos do conhecimento. Às Ciências Humanas, coube valer-se essencialmente da análise conceitual de fenômenos relacionados à sociedade, tentando assim desvendar seu curso histórico.
Pois é justamente aí que Artur Zimerman, cientista político formado pela USP e participante assíduo nos congressos promovidos por centros respeitados como a International Studies Association (ISA), Latin American Studies Association (LASA) e a Associación Latina Americana de Ciencia Política (ALACIP) oferece-nos uma nova visão com Peguem a Foice e Vamos à Luta, lançado este mês, pela Editora Humanitas. Nele, o autor apresenta um mapa acurado da influência exercida pelas questões agrárias na eclosão de guerras civis, baseado em estudos estatísticos e empíricos com alto grau de precisão científica.
Resultado de cinco anos de pesquisa e originalmente escrito como sua tese de Doutorado, Artur lança mão de um extenso arsenal de informações para criar uma espécie de índice para o risco de ocorrência de guerra civil. Empregando uma metodologia quantitativa raramente usada por acadêmicos de ciências humanas no Brasil, mas bastante em voga nos Estados Unidos e nos países escandinavos – o pesquisador esteve, inclusive, na Yale University, nos EUA e na Universidade de Oslo, na Noruega, para tomar contato com esses métodos e dialogar com outros estudiosos -, Zimerman levou em conta fatores como o crescimento demográfico, a produtividade e a concentração de propriedades rurais em países majoritariamente agrários, analisou a situação de 147 países com e sem incidência de guerras e reuniu mais de 3.600 conjuntos de dados, referentes ao período de 1969 a 1997.
A partir daí, com as variáveis do meio rural usadas, por ano e para cada país, é construído um quadro no qual fatores políticos, econômicos, histórico-temporais, de identidade e geográficos determinam – de maneira cientificamente comprovável – o índice de instabilidade rural que fatalmente desemboca em guerras civis. “Veja só, países com alta dependência de recursos naturais, que não têm uma independência plenamente estabelecida (por ser recente) e com regimes de governo híbridos (nem democráticos nem autocráticos, já que este último sufoca as revoltas usando a força) tem maior probabilidade de entrar em conflito civil. Em contrapartida, a partir do momento em que há alguma divisão de terras, a tendência é o índice desabar, porque em última análise, essa famílias só querem um pedaço de terra para produzir e se sustentarem”, diz Zimerman, e completa: “Em quase todas as guerras, na Era Contemporânea, a questão agrária foi um condicionante decisivo, e isso ainda não havia sido estudado com o devido rigor. Só no século 20, as guerras civis resultaram em 134 milhões de mortes, destruindo populações de inúmeros países. Esse número é o dobro do provocado por guerras entre Estados”.
Apesar da forma disciplinada e fria, por meio da qual as evidências são apresentadas e submetidas ao rigor dos modelos estatísticos (com a inclusão de uma série de gráficos e tabelas de ilustração para cada tese formulada), o leitor não deve se enganar. Como pondera a professora Maria Hermínia Tavares de Almeida, orientadora de Zimerman e autora do prefácio que acompanha o livro, temos aqui um humanista, por estória e escolha, preocupado em entender as circunstâncias que levam os seres humanos ao conflito e, principalmente, em como buscar soluções efetivas para evitá-lo.