São Paulo (AUN - USP) -“Gostaria de citar coisas relacionadas à questão da cultura japonesa, como ela se chocava com a cultura aqui do país. Vivi essa situação na pele. De alguma forma, eu não aceitava tranquilamente essa situação”, diz o depoimento do professor da Faculdade de Medicina da USP Yassuhiko Okay na mostra “Encontros e memórias: A inserção nikey na USP e na Sociedade brasileira”, inaugurada em 24/10.
Organizada pelo Laboratório de Estudos sobre a Intolerância (LEI) e pela Escola de Enfermagem, ambos da USP, a exposição faz parte das comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, e fica aberta até 30 de janeiro de 2009 no Centro de Preservação Cultural da USP (CPC-USP Casa da Dona Yáyá).
Para a diretora executiva do LEI e curadora da exposição, Zilda Márcia Grícoli Iokoi, a abordagem do tema é importante porque “a população japonesa, no começo de sua trajetória no Brasil, sofreu uma série de discriminações: por ter uma língua distinta, costumes diferentes e uma postura diante da vida diferenciada – mais introspectiva, menos ‘barulhenta’” em relação aos outros povos imigrantes que integram a sociedade brasileira.
No entanto, essa discriminação foi diminuindo com o passar do tempo. Os nikeis que, em sua maioria, chegaram ao o país em condições econômicas precárias no final da Segunda Guerra Mundial, foram se estabelecendo e conquistando espaços, o que permitiu a miscigenação cultural que se vê atualmente. “Hoje eu como sushi e danço xaxado ao mesmo tempo”, brinca o professor Yassuhiko, na continuação de seu depoimento.
Com melhores condições de vida, muitos nikeis passaram a ingressar em boas escolas e universidades públicas do país, sobretudo, na cidade de São Paulo, que abriga a maior colônia japonesa fora do Japão. “Famílias inteiras de descendentes de japoneses têm trajetórias de formação na USP”, conta Zilda.
A pesquisa para a elaboração da mostra constatou que eles somam, aproximadamente, 10% dos docentes da universidade e que se distribuem, quase uniformemente, entre as três grandes áreas do conhecimento - uma ligeira maioria atua nas Ciências Biológicas, e não nas Exatas, como se pensava; no entanto, também marcam forte presença nas Humanas.
A exposição reúne documentos históricos, fotos e depoimentos de 30 desses professores, de várias gerações, que expuseram, não apenas suas histórias familiares e pessoais, mas também seus trabalhos de produção científica. A riqueza do material coletado possibilitou, ainda, a confecção do documentário “Juntar é bom, mas misturar é melhor!”, lançado na inauguração da mostra. Além disso, esse “mosaico” intercultural fará parte de um livro, cujo lançamento está previsto para janeiro do ano que vem.
Com entrada gratuita, a “Encontros e memórias” fica aberta à visitação de domingo à sexta-feira, das 10h às 16h na Casa de Dona Yayá, localizada na Rua Major Diogo, 353, no Bexiga. Maiores informações podem ser obtidas através do telefone (11) 3106-3562 ou do site www.usp.br/cpc.