ISSN 2359-5191

29/10/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 115 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Socióloga critica falta de estudos sobre os impactos do regime militar no Brasil

São Paulo (AUN - USP) - “O golpe militar de 1964 no Brasil foi um evento eminentemente político, mas produziu enormes e perversos efeitos em outras esferas, como a economia e a cultura, que até hoje, foram pouco avaliados”, diz a socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Ela critica a falta de estudos sobre o período militar, sobretudo, no que diz respeito às mudanças nas formas de sociabilidade dos brasileiros, que sofreram um “esgarçamento” devido às limitações de liberdade impostas pela ditadura.

Para a professora, tais efeitos se intensificaram em 1968, com a imposição do Ato Institucional Número 5 (AI-5), que federalizou da censura prévia à produção cultural. Isso provocou uma interferência mais direta do regime político na sociedade, portanto, a análise dos acontecimentos da época deve tomar mudanças comportamentais e políticas como indissociáveis.

É preciso ter cuidado, também, para não cair na generalização ao comparar os movimentos sociais “libertários” surgidos na época no Brasil e em outros países, como a França e os Estados Unidos, pois cada nação vivia um momento político diferente. “Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que os brasileiros viviam sob a plena regressão política”, uma ditadura, enquanto os franceses e norte-americanos, por exemplo, estavam sob regimes democráticos, explica Maria.

Segundo ela, devido ao cenário de repressão, as manifestações populares no Brasil foram, principalmente, de resistência às limitações de liberdade que afetavam diretamente o cotidiano. Assim, o caráter libertário desses movimentos sociais manifestou-se mais no próprio enfrentamento com o governo do que por meio de mudanças comportamentais, diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos com o movimento hippie, por exemplo.

No entanto, a professora ressalta que essa atmosfera de contestação contribuiu para que o período de censura se tornasse, “paradoxalmente”, um dos mais ricos em produção cultural no país. Isso ocorreu devido à polarização das camadas populares e intelectuais da sociedade junto à “esquerda”, unificada na crítica ao regime vigente.

Entre esses movimentos de contestação, Maria destaca o surgimento de grupos teatrais populares como o Teatro de Arena e o Teatro União e Olho Vivo. “O teatro é um meio muito adequado para as expressões políticas e sociais, porque não tem mediação entre artista e público, só do personagem”, finaliza.

A exposição da professora foi realizada durante o Seminário “1968: Liberdade e Repressão”, organizado pelo Projeto Temático “A Cena Paulista: um estudo da produção cultural de São Paulo de 1930 a 1970”, que desenvolve pesquisas sobre a censura prévia no estado de São Paulo, a partir do Arquivo Miroel Silveira da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

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