ISSN 2359-5191

29/05/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 10 - Educação - Escola de Comunicações e Artes
Televisão ainda está distante da realidade escolar

São Paulo (AUN - USP) - É inegável o fascínio que a televisão exerce sobre as crianças. Basta parar para observar e se pode notar que muitas delas passam boa parte do dia sentadas em frente à telinha acompanhando uma programação variada A grande questão que se coloca frente a essa influência tão forte que a televisão exerce sobre as crianças é como aproveitar esse contato de forma proveitosa para a formação educacional da criança. Tal relação entre televisão e educação infantil gerou uma das mesas-redondas realizadas pela III Semana de Educação da USP, que reuniu professores da Escola de Comunições e Artes (ECA) para debater as possíveis aproximações entre comunicação e educação.

O desafio de trabalhar com a televisão na sala de aula começa com o preconceito que a TV enfrenta no espaço escolar. A professora Elza Dias Pacheco que coordena pesquisas entre crianças e TV na ECA destaca que a realidade muitas vezes fechada da escola deixa a TV do lado de fora por considerá-la parte do universo lúdico da criança e que muitas vezes é barrado no cotidiano escolar. Dessa forma perde-se a possibilidade de aproximar a realidade do aluno da escola, o que poderia facilitar e incentivar o processo de aprendizagem.

Um outro problema apontado pelos integrantes da mesa foi a baixa qualidade da programação da TV brasileira. Existem pouquíssimos programas voltados para o público infantil e a criança acaba submetida a programas considerados adultos, que muitas vezes misturam a violência e a sexualidade banalizada ao humor, numa lógica perversa que só prejudica a formação da criança. “Não é só porque descobrimos a TV como ampliadora de novas propostas pedagógicas que podemos sair por aí comemorando nossa programação” apontou Elza.

Por outro lado, o professor Alexandre Pazza lembrou que a TV também pode ser bem aproveitada, criando novas possibilidades cognitivas através de uma forma de pensar mais ágil e dinâmica. Segundo Pazza, os meios de comunicação em geral facilitam a entrada dos temas transversais na sala de aula, oferecendo a possibilidade de corrigir a falta de diálogo que se disseminou na realidade escolar. Muitas vezes essa deficiência no comunicar-se acaba por prejudicar as mudanças necessárias para incorporar o eletrodoméstico mais presente nos lares brasileiros. “Há uma espécie de conservadorismo nessa realidade escolar fechada no qual qualquer mudança pode parecer subversiva”.

Além da falta de diálogo, Pazza apontou mais duas falhas nas escolas públicas para um trabalho mais aprofundado com a mídia. Uma delas é a resistência dos próprios docentes que não conseguem compreender as novas gerações, já que muitas vezes não buscam saber dos gostos e problemas de seus alunos, negando o que trazem como conhecimento prévio e mantendo uma relação distanciada. Um outro complicador é a deficiência na formação do professor que, na maioria das vezes, não sabe operar com as novas mídias e fica perdido ao tentar desenvolver novos projetos – até mesmo com a televisão.

A fala final foi da professora Eunice Santos Lima, que defende uma educação sedutora, não para concorrer com a mídia, mas para chamar a atenção do aluno. É necessário transformar a concorrência perversa que a mídia estabelece com a leitura numa parceria que torne o aprendizado mais gostoso, mais lúdico.

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