ISSN 2359-5191

06/11/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 120 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Essa tarde falamos de censura

São Paulo (AUN - USP) - Encontraram-se na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA) três mulheres fundamentais para a história do teatro brasileiro Maria Thereza Vargas, grande pesquisadora do teatro brasileiro, Renata Pallottini, dramaturga e Nydia Lícia, atriz do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) e fundadora de uma companhia que levava seu nome. Não só essas mulheres foram testemunhas das mudanças ocorridas no ano de 68, mas foram também protagonistas. Elas discutiram censura durante o Seminário 1968: Liberdade e Repressão, ocorrido recentemente na Escola de Comunicações e Artes – ECA/USP.

As reflexões sobre a censura teatral se iniciaram a partir da história da censura da peça “Essa noite falamos de medo”, de Nydia Lícia. Uma peça que, apesar de falar de nazismo, bomba atômica, racismo nos Estados Unidos, era também direcionada para crianças. E, portanto, não continha em si nenhum tipo de atentado ao pudor ou o germe da revolução comunista.

Ainda assim a autora foi chamada à delegacia para dar explicações sobre as vestimentas de Adão e Eva e sobre o motivo de menção aos Estados Unidos. A autora defendeu que a peça apenas cita acontecimentos históricos, “não tem nada contra o Brasil, nem contra os Estados Unidos. Mas o clima da época era de uma perseguição tamanha que “qualquer menção a algo sério era barrada”. Para ela, a partir de 1968, como a orientação da censura era essencialmente política, acabaram passando “palavrões, coisas excessivamente picantes”. O que, antes os censores vetariam como atentado à moral e à família brasileira.

Mesmo com essa mudança de parâmetros, Nydia Licia ressalta que a censura não é obra de 1968. Ela existia e causava problemas muito antes, como no exemplo citado da encenação da obra de Jean Paul Sartre em 1961, os censores exigiram um ensaio especial, pois queriam saber “o que era o existencialismo, eles achavam que era uma coisa muito perigosa...”. Chegando a exigir, em outro momento, o comparecimento de Sartre à delegacia.

A atriz falou também das conseqüências da censura sobre os textos teatrais. A saída era a montagem de peças históricas, ou de peças como ‘Esta noite falamos de medo’, que utilizava sketches e música. Ou ainda monólogos, que eram produções mais baratas e não deixariam na companhia com grandes prejuízos financeiros caso a peça fosse proibida no dia anterior a estréia, como era comum na censura.

Para as três palestrantes, era inadmissível que uma censura “burra”. como Nydia Licia a definiu, pudesse marcar tanto a vida cultural brasileira, marcas que podem ser percebidas não só nos prejuízos financeiros, mas na autocensura provocada pela decepção de tanto tempo de trabalho perdido em uma “canetada”.

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