São Paulo (AUN - USP) -O Brasil está prestes a comercializar seu primeiro biofármaco nacional para reconstituição de tecido ósseo. Isto é resultado do trabalho desenvolvido pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo. (IQ-USP), que é responsável pelo projeto científico do produto. Após experiência com hamsters, cientistas da Universidade acreditam que, apesar das etapas legais que existem pela frente, o método esta pronto para entrar no mercado.
A principal responsável pelo projeto é a professora Mari Cleide Sogayar, do Departamento de Bioquímica do IQ. Ela explica que o grande desafio foi conseguir domar as BMPs (Bone Morphogenetic Proteins), que são bem difíceis de se trabalhar. Estas proteínas atuam no crescimento do tecido ósseo. Participam de diversas etapas do desenvolvimento, desde a fase embrionária até a adulta do indivíduo. Conseguir trabalhar de modo bem sucedido com estas elas foi fundamental para o sucesso do projeto.
As BMPs são um grupo de 15 proteínas, cada uma age de uma forma diferente dentro do corpo humano. Elas foram descobertas em 1965 pelo cientista americano Marshall Urist, desde então são estudadas pela Ciência a fim de descobrir como atuam no organismo. Além de estarem relacionadas com o crescimento ósseo, estão ligadas também ao desenvolvimento das cartilagens e dos membros superiores e inferiores dos mamíferos. Regulam também o crescimento dos dentes. Os cientistas já mapearam geneticamente as proteínas, e sabem em quais cromossomos estão os genes responsáveis por sua síntese.
Os cientistas da USP iniciaram o projeto com células recolhidas dos ovários de hamsters. A partir daí os esforços foram para sintetizar as proteínas em laboratório. O importante é conseguir sintetizar um número considerável de proteínas e que elas tenham um nível de atividade satisfatório na regeneração de ossos. Este objetivo foi atingido pelos cientistas da Universidade.
Uma grande vantagem do projeto do IQ é que ele está livre de uma das maiores discussões éticas do meio científico atual: o uso de embriões para o desenvolvimento de novas terapias. Pois, diferente das técnicas envolvendo células-tronco de embriões, neste projeto não é usada nenhuma célula embrionária para obter o crescimento do novo tecido. As proteínas são aplicadas no paciente combinadas com osso moído, não existe nenhum material celular envolvido no processo. Sogayar explica que depois da aplicação são as próprias células do paciente que entram em ação para provocar o crescimento do novo tecido.
O fato de todo o processo ser integralmente realizado no Brasil também é um ponto forte. Além de fortalecer a autonomia nacional e mostrar progresso no desenvolvimento do país, o produto tem um custo reduzido. Pois não sendo dependente de outros países para ser desenvolvido ele fica mais barato. Desta forma, o tratamento fica bastante acessível para a população. Ele poderá inclusive ser facilmente utilizado pelos sistemas de tratamento públicos.
Uma empresa brasileira, que tem o nome mantido sob sigilo, já está em acordo com os cientistas para comercializar o produto. Contudo, isso depende de processos legais. São muitos protocolos a serem validados, explica Sogayar. Todos os procedimentos precisam ser aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Se tudo correr bem, em até cinco anos o produto estará no mercado.