São Paulo (AUN - USP) -Psicólogos, professores e estudantes universitários estão em campanha aberta pela volta do ensino de Psicologia nas escolas públicas. Querem oferecer um espaço para que o jovem reflita sobre sua relação com a vida, o trabalho e a cultura e discuta temas como a construção da identidade, os processos de discriminação social, a sexualidade e as drogas.
A presença do ensino de Psicologia nas escolas já foi uma realidade por muitas décadas no país. A disciplina estreou no ensino regular em 1850, no Rio de Janeiro e, em 1890, foi ampliada para todas as Escolas Normais. Mas sofreu um duro golpe em 1971, durante a ditadura militar, quando foi banida das escolas. O ensino de Psicologia voltou em 1982, com a Lei Federal 7.044, mas em 1996 foi apenas citado na Lei de Diretrizes e Bases como disciplina não obrigatória.
No Estado de São Paulo a disciplina foi oferecida nas escolas públicas até o final de 2007, como uma matéria optativa do terceiro ano do ensino médio, ao lado de Filosofia. Uma reforma da grade retirou o ensino de Psicologia e os 130 professores habilitados para a matéria foram realocados para outras funções.
Os alunos parecem não ter aprovado a medida. Pesquisa realizada com estudantes que tiveram aulas de Psicologia no ensino médio mostra que o interesse era alto e que muitos pedem o seu retorno. “Os alunos ressaltaram que a disciplina contribui para melhor estruturar o pensamento, repensar as relações pessoais e tomar decisões mais precisas quanto às suas carreiras”, resume a psicóloga e professora Leny Magalhães Mrech, da Faculdade de Educação da USP, que coordenou a pesquisa.
Leny argumenta que a volta da disciplina ao ensino médio não traria custos extras ao Estado, pois a rede conta com professores habilitados para ensinar Psicologia. Mas novas contratações seriam necessárias para levar a disciplina a todas as escolas. “Falta uma disciplina que trate dos processos de subjetivação do sujeito na cultura e do vínculo do adolescente com o trabalho e com a vida”, afirma. Segundo ela, o conteúdo que era oferecido nas aulas de Psicologia foi distribuído de forma fragmentada no currículo, prejudicando a abordagem de assuntos fundamentais na vida do jovem.
A partir de 2009, todos as escolas públicas e particulares deverão oferecer aulas de Filosofia e de Sociologia nos três anos do ensino médio, em função de alterações na Lei de Diretrizes e Bases sancionada em junho deste ano pelo presidente da República, em exercício, José de Alencar. A campanha em curso pede a inclusão de aulas de Psicologia, ao lado das outras disciplinas de ciências humanas. Apóiam o movimento o Conselho Federal de Psicologia, os Conselhos Regionais de Psicologia, a Associação Brasileira de Ensino de Psicologia e o Sindicato dos Psicólogos de São Paulo.