São Paulo (AUN - USP) -Quarenta anos depois, a Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA) discutiu recentemente o ano de 1968, ainda vivo na memória dos seus palestrantes e repleto de conseqüências na vida do seu auditório. Mas muito além de 68, foi uma década inteira de profundas transformações sociais, políticas e históricas, mas que acabaram por se concretizar e encontrarem seus momentos-símbolos naquele ano.
Como então resumir em uma semana questões colocadas em um ano tão conturbado? Vindo de uma época de mudanças e duvidas e de uma era que o historiador Eric Hobsbawm chamou de a Era das Revoluções. Tudo aconteceu, no Leste Europeu, em Paris, nos EUA e aqui.
Mas é possível encontrar um ponto de encontro entre tantas falas distintas e tantos lugares distantes. Nunca com tanta força e paixão se pensou o homem e a liberdade. E nunca com tanto terror e veemência se reprimiu esse mesmo homem.
É a partir das palavras liberdade e repressão que o Seminário do Arquivo Miroel Silveira centrou o debate em torno do ano de 1968. A partir dessas palavras e do contexto teatral brasileiro e da censura exercida sobre essa e outras manifestações culturais. Já que o objeto do estudo do Arquivo são esses mesmos temas.
O Arquivo Miroel Silveira é a principal fonte de estudos do projeto temático "A cena Paulista", que estuda a produção cultural de São Paulo, de 1930 a 1970. Desde 2005 o projeto estuda e ajuda a conservar mais de seis mil processos de censura prévia ao teatro originados do Serviço de Censura do Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo (DDP-SP). Os processos abrangem da era Vargas ao início da Ditadura Militar.
Para Cristina Castilho Costa, professora da ECA e coordenadora do Arquivo, a análise das peças censuradas demonstra o conservadorismo, o autoritarismo e o desrespeito à autoria presentes na época. Ela conta que os censores se davam o poder de dizer o que a sociedade podia saber e o que não podia. Salientando o quanto é assustador perceber como a sociedade aceita e deseja (ainda que secretamente) a censura, seja nos abaixo-assinados e cartas de apoio à censura, seja nos silêncios frente às proibições.
Estavam presentes nessa mesa de abertura: Maria Luiza Marcilio, presidente da Comissão de Direitos Humanos da USP; Luiz Augusto Milanesi, diretor da ECA-USP; Luiz Fernando Ramos, dramaturgo, crítico de teatro e professor da ECA-USP; Gabriel Borba, do Museu de Arte Contemporânea da USP; Rosa Iavelberg, diretora da Centro Universitário da Maria Antônia da USP e Cristina Costa. De acordo com os palestrantes, com a bíblia ou com a carta de direitos humanos, a liberdade é um direito e uma fundação do ser humano e não nos pode ser negada por quem quer que seja.