São Paulo (AUN - USP) -O ano de 68, um personagem histórico, agora quarentão, mas que se faz presente não apenas em debates, meios de comunicação ou salas aula, mas, principalmente, no pensar no agir das gerações seguintes. Foi discutido recentemente pelo Arquivo Miroel Silveira (AMS), na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA). O Arquivo é a principal fonte de estudos do projeto temático "A cena Paulista", que estuda a produção teatral de São Paulo, de 1930 a 1970. Participaram do debate, Francisco Alambert, professor de História Social da USP, o professor da Unicamp João Quartim de Moraes e o professor Ferdinando Martins de Ciências Políticas, jornalista e pesquisador do AMS.
Foi uma década inteira de profundas transformações sociais, políticas e históricas, mas que acabaram por se concretizar e encontrarem seus momentos-símbolos em um ano-símbolo. Para Alambert, é importante ver nesses momentos sua íntima ligação com nossa década, percebemos o ano com desconfiança e jubilo.
A história de 68 nos é tão próxima quanto distante. Distante porque vivemos um tempo em que as utopias são massacradas todos os dias pelos “realistas” da “nova ordem mundial”. E próxima porque muitos de nós precisamos imaginar um futuro melhor. Ou porque muitos dos protagonistas das mudanças do passado estão no poder no presente.
Alambert coloca que hoje, 40 anos depois, os jovens vêem 68 como evento histórico ou como moda. A primeira parte é um bom sinal. A segunda é um sinal dos tempos. As conquistas da década de 60 e 70 se transformaram em ultraconsumismo, desinteresse pelo estudo e individualismo sem limites.
Os desejos da juventude de 68 se concretizam de forma distorcida na juventude de 2008: a vida sexual foi liberada, mas é neurótica, já que é mais um objeto a ser consumido; o acesso as drogas é facilitado, mas não para “abrir as portas da percepção” e sim para abrir as da alienação; até a rebeldia foi absorvida, mas a maioria das revoltas são toleradas e deixam apenas que o sistema crie certa aparência democrática.
Mas a partir dessas contradições ressurge também o verdadeiro espírito contestador de 68, como surgiu nesse debate, no que foi chamado de “revival ainda travado do movimento estudantil” ou nos inúmeros grupo de teatro citados, atuais e atuantes, que repensam o passado sem deixar de lado os problemas presentes e o compromisso com o futuro. O fantasma da época está entre nós, resta saber se vamos nos deixar assombrados ou inspirados, completa Alambert.