São Paulo (AUN - USP) - Em um mundo no qual as verdades são múltiplas, o sentido da comunicação não é transmitir a realidade, mas formar comunidades. Mais do que nos conteúdos específicos, o valor do ato de comunicar está nesta característica formadora. Mas muita gente não tem acesso a esse processo, o que cria um grande mal-estar e uma exigência ativa por comunicação, um atributo cada vez mais fundamental. Um terrorista que se explode em um supermercado quer comunicar. O problema dos palestinos, de sua liberdade, é um problema de comunicação.
Estas foram algumas das idéias apresentadas pelo filósofo italiano Gianni Vattimo em conferência realizada na ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP) no último dia 6. O evento comemorava os 30 anos desta que foi a primeira pós-graduação em Comunicação do Brasil.
Vattimo, professor da Universidade de Turim e membro do Parlamento Europeu, é considerado uma das principais referências do pensamento pós-moderno. Entre os livros do autor traduzidos para o Português, destaca-se “A Sociedade Transparente”, que ele procurou discutir em sua palestra.
Segundo o pensador, o ser humano precisa liberar-se da idéia de verdade única, que é algo inexistente. O conceito de comunicação verdadeira, não-distorcida, lhe parece bastante autoritária. Afinal, quando alguém fala em nome de uma verdade, não admite contestação, o que é em si uma violência. “Se cremos em uma verdade última, não somos livres”, afirma.
Mas, para o filósofo, não é fácil operar a comunicação sem acreditar em uma verdade. A solução seria fazer os outros compartilharem de sua experiência pessoal. “Não devo tentar convencer o outro de que a música que escuto é melhor que a dele, mas posso fazer com que perceba por que eu a aprecio, para que ele também possa fazê-lo”.
A comunicação forma comunidades na medida em que transmite experiências e que essas geram identificação. O problema é que se vive em um mundo de interpretações em conflito, o que, sem dúvida, dificulta a comunicação. Isso leva certos indivíduos a tentarem formas mais drásticas de comunicar suas experiências, como o terrorismo, que procura reproduzir um certo sentimento de sofrimento.