ISSN 2359-5191

12/06/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 11 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Brasil e Timor Leste devem aproximar-se, afirma pesquisador da FFLCH

São Paulo (AUN - USP) - O professor do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, Leonardo Moretti Sakamoto, afirma que o Brasil precisa conhecer melhor o Timor para ser seu parceiro, e também conhecer as causas e conseqüências de sua independência para ajudar a pensar o próprio processo brasileiro de consolidação democrática. Essa idéia é abordada em sua dissertação de mestrado, “A Independência de Timor Lorosae – causas e conseqüências da autodeterminação do povo maubere”, a ser defendida no Departamento de Ciências Políticas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

O Timor Leste, ou Timor Lorosae (do sol nascente, no dialeto tétum), tem como novo presidente, desde 20 de maio, José Alexandre Xanana Gusmão. Ele foi o líder máximo da resistência timorense pela independência, e eleito com mais de 90% dos votos.

Sakamoto espera que o povo brasileiro se apaixone, como ele, pela consciência de liberdade dos timorenses. Afinal, foi um povo que bateu de frente com um dos maiores exércitos do mundo sozinho e venceu – não abaixou a cabeça perante a dependência. Brasil e Timor são irmãos de língua, e o português foi considerado a língua da resistência, ainda que seja falado apenas por pouco mais de 20% da população. “O Brasil demorou muito tempo para se interessar pelo Timor e apoiar a sua causa, devido a relações comerciais com a Indonésia. Muito pouco foi produzido e estudado sobre o Timor no Brasil”, acrescenta.

O interesse pelo Timor começou com um trabalho de conclusão de curso, ao formar-se em Jornalismo em 98, intitulado: “Timor – o rosto coberto pela guerra”. Seu objetivo era retratar o povo timorense e “dar nome e voz aos massacres de guerra”. Resolveu, então, dar continuidade ao seu estudo, agora já numa ótica e num discurso acadêmicos. A dissertação analisa o período que vai da década de 90 até o começo de 2002. O Timor vive hoje um momento histórico importantíssimo: a consolidação do processo de independência. A Indonésia invadiu o país em 1975 e, até 98, 300 mil timorenses foram mortos pelo exército invasor, ou seja, 44% da população: um dos maiores genocídios da História. Num plebiscito realizado em setembro de 99, 78,5% da população votou a favor de sua autodeterminação e contra a integração definitiva com a Indonésia. Até as vésperas da posse de Xanana, a ONU administrava o país através de um representante brasileiro.

O que propiciou um contexto favorável à independência foi a crise no Sudeste Asiático de 1997, que afetou profundamente o regime não democrático da Indonésia, levando à queda do ditador Suharto. Some-se a isso 24 anos de resistência do povo, com ações guerrilheiras, atos de desobediência civil e constante propaganda no exterior sobre o desrespeito aos direitos humanos e às liberdades individuais.

Timor Leste é uma ilha que se localiza a 2.000 km de Jacarta, capital da Indonésia. O país está totalmente destruído pela guerra, com uma população miserável, que vive de atividades rurais e da pesca. Sua independência levou outras províncias da Indonésia a também lutarem pela liberdade.

O Brasil já possui alguns acordos com o Timor, como parceria em educação para a troca de conhecimentos e transferência de tecnologia agrícola (um dos principais produtos agrícolas de ambos os países é o café); há também estudos da Petrobras sobre uma possível exploração das jazidas de petróleo submarino do país.

Xanana Gusmão já esteve no Brasil em 2000. Quando estava preso em 1998, na penitenciária de Cipinang, foi entrevistado por Sakamoto, a quem declarou: “Compreendemos que com 20 milhões de pessoas esfomeadas neste momento na Indonésia, 600 mil (a população timorense) são apenas mais um peso. Então nós preferimos retirar um bocadinho desse fardo das costas deles.”

O Timor hoje escreve a sua primeira constituição, através de uma Assembléia eleita pelo voto livre e direto.

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