São Paulo (AUN - USP) - Reza a práxis jornalística que, para aqueles que exercem essa função, secular e tão cara a nossos tempos, que se pautem por alguns pressupostos básicos: clareza, objetividade, compromisso com a sociedade, respeito à verdade factual. Nesse ínterim, parece repousar no óbvio absoluto o entendimento da ética como o pilar fundamental, guia e norteador de toda a atividade profissional da área. Mas nem sempre esse quadro se pinta em cores tão harmoniosas.
Resultado de pesquisas pinçadas ao longo dos últimos nove anos, Rogério Christofoletti, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e membro do Conselho Administrativo da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), conjugou suas experiências como jornalista e professor - leciona a disciplina de Legislação e Ética em Jornalismo na Universidade do Vale do Itajaí (Univali) - para copilar casos, hipóteses e análises histórico-sociais sobre a atividade nos meios de comunicação. O resultado é o livro Ética no Jornalismo, lançado pela Editora Contexto (R$ 27,90, em média).
Se perguntas como “deve o fotógrafo capturar a imagem de uma criança morrendo ou ajudá-la?” ou “qual é a relação possível com a fonte?” ainda perambulam como fantasmas nas cabeças dos profissionais da informação, Rogério as trata em sua obra muito mais como questões que ajudam a exercitar um espírito crítico e suscitar discussões construtivas do que com o intento de solucioná-las, o que tenderia a diminuir ou engessar seu impacto, em sua opinião. “O objetivo dessa coleção editorial é ampliar públicos, oferecer textos sem grande complexidade e sem cacoetes acadêmicos para todos aqueles que se interessam e se preocupam com o jornalismo”, pondera.
Defendendo sempre o equilíbrio entre as inevitáveis relações comerciais de um veículo midiático e seu compromisso com a informação de qualidade, Rogério vê de maneira perigosa a fusão desses dois planos: “Em termos comerciais, um veículo não pode ficar nas mãos de um ou poucos anunciantes, pois isso restringe a sua margem de manobra, o espaço em que pode operar. É como alguém que deposita todos os ovos numa única cesta. Isso é altamente temerário, pois qualquer queda ou acidente pode colocar tudo a perder. As empresas devem então precaver-se, ampliar as formas de se blindar do ponto de vista comercial e - claro - editorial. Quanto menos dependente comercialmente, mais independente editorialmente. Neste sentido, o que fazer? Ampliar sua base de anunciantes e manter a separação sagrada entre departamentos editorial e comercial.”
Por fim, o professor pontua sobre a necessidade de se levar em conta algumas questões jurídicas fundamentais na execução do trabalho jornalístico, ao dizer que “é necessário entender que há uma linha que separa a atividade do repórter da ilegalidade, e ela tem de ser respeitada. Ele pode omitir sua função publicamente, numa investigação? Pode, desde que não assuma uma outra identidade, pois isso já incorre num delito, que é a falsidade ideológica. Deve proteger a fonte, mesmo que seja um criminoso procurado ou deve ajudar nas investigações, se solicitado? Depende, jornalista não é policial. Nem sempre deve colaborar com as investigações, assim como não deve fazer investigações nos moldes policiais, pois não tem essa atribuição nem o seu preparo. O jornalista precisa refletir sobre qual é o seu papel naquele momento. Se quiser colaborar com a polícia, não estará mais atuando como jornalista, a rigor. Seu papel é contar histórias, relatar, ouvir fontes, ter claro que deve contribuir para uma compreensão melhor do público sobre a sua realidade. É essencial que se reflita sobre qual é o papel do repórter no momento de sua ação”, conclui.