São Paulo (AUN - USP) -O professor Daniel Atencio, do Instituto de Geociências da USP (IGc-USP), descobriu dois novos minerais, a guimarãesita e a bendadaíta. As descobertas foram feitas no estado de Minas Gerais nos últimos dois anos e apresentadas ao público durante o 44° Congresso Nacional de Geologia, realizado em outubro último em Curitiba, Paraná.
Até hoje no Brasil só foram descobertos e descritos 50 minerais, o que é uma quantidade pequena quando comparada ao número de descobertas feitas em países como Rússia e Estados Unidos.Destes 50, 20 foram descobertos antes de 1959, ano em que foi fundada a International Mineralogiacal Association (IMA), que tem como função avaliar os trabalhos desenvolvidos na área e controlar a nomenclatura dos novos minerais. “Antes da criação da IMA qualquer um poderia descrever um novo mineral e ter seu trabalho publicado. Atualmente, esse trabalho deve ser julgado pela comissão, a fim de ser validado”, diz Atencio.
Nos últimos cinco anos, porém, foram descritos 11 minerais novos no Brasil, uma media de 2,2 minerais por ano. Em 2005, por exemplo, o país ficou em segundo lugar no ranking dos países que mais descreveram novos minerais. Os mais recentes minerais, a guimarãesita, um fosfato, que recebeu esse nome em homenagem ao mineralogista brasileiro Djalma Guimarães, e a bendadaíta, um arsenato de ferro, que recebeu esse nome em homenagem a uma pedreira em Portugal, já que foi descrito pelos dois paises, foram estudados pelo professor Atencio, juntamente com outros cientistas de diversas nacionalidades, em 2007 e 2008. “Recém aprovado pela IMA a brumadoíta, um telureto de cobre, é o mais novo mineral brasileiro a ser descrito”, completa Atencio. Contudo, descrever um mineral é um processo longo e complexo. “Deve-se juntar todas as propriedades do possível novo mineral e preencher um formulário da IMA com todas essas características. Fazer a reunião dessas propriedades é difícil, podendo levar anos de estudo”, explica Atencio. Quando reunido todo o necessário o formulário é enviado ao presidente da IMA, atualmente o australiano Peter Williams, que avalia o trabalho e o envia aos membros da comissão, também encarregados de analisar o estudo.
Se aprovado, os autores do trabalho têm como obrigação colocar a amostra-tipo, que foi a utilizada para o estudo, em um museu. “Antigamente não era assim. A amostra servia para o estudo e era descartada ou colocada na coleção pessoal do pesquisador, o que prejudica estudos futuros em cima desse material”, diz Atencio.
Uma área a ser estudada
A maioria das rochas, porém, ainda não foi estudada detalhadamente. A região de Minas Gerais, por exemplo, é rica em pegmatitos, tipo de rocha rico em minerais de composição química diferente, que nunca foram estudados. Outros tipos de rocha, como os carbonatitos, encontrados na região sul de São Paulo, também ainda não foram objeto de estudos detalhados. “Se você começa a estudar essas rochas, a procurar por minerais diferentes nelas, você acabará sempre encontrando algo novo”, conclui Atencio.
Atualmente se descobriu também que, além de serem fontes de minérios, como o de ferro, os minerais podem ser modelos estruturais para se produzir compostos químicos de utilidade para a indústria farmacêutica ou de tecnologia. Baseando-se nas estruturas cristalinas diferentes, encontradas nesses novos minerais, os cientistas serão capazes de desenvolver novos remédios e produtos eletrônicos de tecnologia sofisticada. “Para os dois mais recentes minerais que descobri ainda não encontrei a utilização. Porém, para a menezesita, um heteropoliniobato que apresentei no 19th. General Meeting of the International Mineralogical Association, no Japão, em 2006, descobri que sua estrutura cristalina é semelhante às desenvolvidas somente de maneira artificial e que poderá ser usada no tratamento da AIDS, já que tem a capacidade de aprisionar o vírus”, finaliza Atencio.