São Paulo (AUN - USP) -O ano de 1968 mostrou estar ainda vivo na memória dos debatedores da palestra denominada Bang Bang, que abordou a relação entre os meios de comunicação de massa e a produção teatral da época. Promovida na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA), a palestra fez parte de um seminário promovido pelo projeto de pesquisa Arquivo Miroel Silveira (AMS) sobre o ano de 1968.
Os palestrantes, o professor da Unicamp, Marcelo Ridenti; professor da ECA, José Eduardo Vendramini; crítico teatral Jefferson Del Rios; e o músico e dramaturgo Romário Borelli. Todos eles vivenciaram de forma mais ou menos intensa a repressão governamental ao mesmo tempo em que experimentavam grande liberdade intelectual e artística.
José Eduardo Vendramini começou no teatro amador no ano do golpe militar. Participando do centro acadêmico e do grupo de teatro da escola, ele soube, através da censura, que sua fala carregava algo de subversivo. Em 1976, ao encenar uma peça de Martins Pena, o censor disse ao grupo que no altar, parte do cenário da peça, não podia ter Santo sem cabeça. Sendo a peça uma produção de baixo custo, de teatro amador, a falta de cabeça de algumas imagens havia sido apenas uma coincidência, “eu mesmo não tinha reparado que eu estava significando aquilo que o censor me alertou”.
“68 para mim é muito forte, porque eu estou falando da minha juventude”, Jefferson Del Rios contou aos invejosos ouvintes de sua convivência com Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque nos bares da cidade. “Em 68 eu vi a ditadura de frente, quando fui cobrir a chegada do general Costa e Silva, olhei para ele, de cabelão e barba e disse ‘oi’, eu não disse ‘vossa excelência’, eu disse oi.”. Para ele, foi a partir desse ano que a esquerda percebeu que “a coisa começou a ficar séria”. E foi nesse momento também que essa esquerda deixou de esperar pelo afloramento das contradições da burguesia e partiu para a luta armada.
Mas foi o músico e dramaturgo Romário Borelli quem deu o depoimento mais pessoal e emocionado. Ele foi músico do Teatro de Arena, e das peças Morte e Vida Severina e Roda Viva. Foi quando ele contou, a partir de sua experiência pessoal, os acontecimentos que envolveram esta última peça. “A gente quando fala de ditadura, de censura, parece que não tem ser humano vivendo aquilo”.
Para ele, um estado ditatorial pode eventualmente se tornar democrático, mas que sofreu a violência nunca vai superá-la e quem foi vítima carregará para sempre essa mancha, que se manifesta como da primeira vez, 40 anos depois. Borelli falou especificamente da violência que sofreu em Porto Alegre, quando da apresentação de Roda Viva, logo depois dos acontecimentos similares em São Paulo, no Teatro Oficina.