São Paulo (AUN - USP) - O senso comum costuma rotular os japoneses como um povo comedido, delicado em suas ações e seus rituais. Em sua estada pelo país do Sol Nascente, o fotógrafo e professor de fotojornalismo da Escola de Comunicações e Artes, Atílio Avancini, contemplou a sutileza das expressões e sentimentos dos japoneses no cotidiano por meio da sua Nikon FM10. O resultado está no livro “Entre Gueixas e Samurais”, que reúne fotografias e relatos de sua passagem por nove cidades japonesas.
Entre abril de 2006 e março do ano seguinte, Avancini trabalhou na Kyoto University of Foreign Studies, como parte do programa de intercâmbio entre a instituição e a USP. Sua função era ensinar cultura brasileira. Apesar de desconhecer até o idioma japonês, ele lembra que, após a confirmação de sua viagem, recusou-se a conhecer algo sobre o país. “Eu quis chegar lá totalmente cru e virgem diante daquele lugar. Tomei quatro aulas de japonês, apenas para dizer ‘bom dia’, ‘boa noite’”.
Ao chegar a Kyoto, seus primeiros passeios foram de bicicleta, sem rumo, apenas observando o mundo novo que o rodeava. Foi assim que tirou as suas primeiras fotos sobre o cotidiano dos moradores da cidade, capital do Japão até a II Guerra Mundial. De imediato, saltou aos olhos do professor a sutileza dos japoneses.
Atílio conta que esta característica tornou-se um desafio, que o fez buscar momentos cotidianos em que os sentimentos afloravam do rosto de seus fotografados. “Eu acredito que consegui trazer e evidenciar essas pequenas sutilezas e emoções dos japoneses”. Para o professor, essa delicadeza também se traduz num olhar mais perspicaz. “Eles são capazes de lerem um acontecimento pelo silêncio. Um movimento da sua boca, ou um movimento da sua mão, para eles é sempre um sinal. Nós [brasileiros] não temos esse treino”.
Dentre as cidades retratadas no livro, uma das que possui menos fotos é a de Hiroshima, justamente uma das mais famosas devido ao trágico bombardeio nuclear estado-unidense, durante a II Guerra Mundial. Avancini conta que, inicialmente, não tinha planos de ir a Hiroshima: “É muito estereotipado, eu não tinha muita vontade”. A história mudou quando ele soube de uma cerimônia que ocorria na cidade, em lembrança da bomba H. “Uma experiência inesquecível”, relembra o professor.
“Fiquei surpreso com o choque entre o momento pós-bomba e ver o que acontece hoje, foi uma mudança impressionante”. Em Hiroshima, ele destacou a passagem pelo museu (foto abaixo). “Eles conseguiram traduzir de tal forma aquele evento... O silêncio que há no museu, as imagens que você contempla, a localização (no epicentro da explosão da bomba), a quantidade de gente... É uma coisa muito tocante”.