ISSN 2359-5191

12/12/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 144 - Ciência e Tecnologia - Escola de Comunicações e Artes
Autora de documentário critica transgênicos da Monsanto na USP

São Paulo (AUN - USP) - Marie-Monique Robin se diz chocada pelo fato de o presidente Lula ter caído na “armadilha dos transgênicos”. Ela é autora do documentário “O Mundo Segundo a Monsanto” e do livro homônimo, são trabalhos a respeito das várias acusações feitas à empresa, entre elas a de esconder evidências a respeito da nocividade de alguns de seus produtos por décadas e a de empurrar a aprovação de outros, como transgênicos, através de lobby e “troca de cadeiras”, ou seja, a presença de ex-funcionários em órgãos reguladores do governo seguida pela sua recontratação.

Para Robin, políticos como Lula são vítimas da “intoxicação pela desinformação”, ou seja, não conhecem os malefícios que os transgênicos trazem e, conseqüentemente, os apóiam. Ela mesma diz já ter tido o mesmo problema. “Um gene a mais, um gene a menos...” disse, citando seu irmão, agrônomo. Hoje em dia, já não é da mesma opinião – nem seu irmão.

Brasil e outros países da América do Sul têm destaque no documentário de Robin. A soja transgênica entrou no subcontinente a partir de sua aprovação na Argentina, tendo se espalhado ilegalmente para o Paraguai e para o Brasil. Depois de constatar que a maior parte de suas colheitas já eram de transgênicos, o governo paraguaio se viu obrigado a oficializar a situação. Os transgênicos foram aprovados no Paraguai não por consenso, mas por uma necessidade prática. A partir de então, os agricultores passaram a pagar royalties à Monsanto.

Algo parecido ocorreu no Brasil, onde os transgênicos já eram realidade antes de sua aprovação. No país, a situação foi legalizada com a Lei de Biossegurança, que, para Wilson Bueno, professor de Jornalismo Científico da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, se aproveitou do consenso favorável em torno das pesquisas com células-tronco para ser aprovada. Os transgênicos teriam pego carona com as células-tronco, que também estavam previstas na Lei de Biossegurança.

O documentário de Robin foi exibido dia 8 de dezembro no auditório da Geografia da USP. Depois da exibição, a jornalista falou sobre a obra. Também estavam presentes ativistas do Greenpeace e do MST, Movimento dos Sem-Terra. O documentário foi feito a partir de pesquisas no Google. É o primeiro trabalho que Robin estruturou completamente sobre a Internet. Segundo a autora, é uma forma de mostrar que todas as informações estão disponíveis, mas também há quem diga que é uma maneira de evitar processos.

Além dos transgênicos, a autora também tratou do Roundup, que cita como carro-chefe da Monsanto. É o herbicida, produto que combate ervas daninha, mais utilizado no mundo. O Brasil não é exceção. “O Brasil rega o país com Roundup e depois consome os alimentos regados com Roundup”, disse a autora. Em sua opinião, o produto será proibido pois causa males. A proibição só acontecerá, entretanto, depois que os danos já tiverem acontecido, como aconteceu com outros produtos da Monsanto que cita no documentário.

Ela critica também a forma como existem, praticamente, apenas transgênicos pesticidas, ou seja, transgênicos que produzem, eles mesmos, agentes nocivos aos insetos. A Monsanto é responsável por cerca de 90% dos transgênicos do mundo. Além disso, há também plantas modificadas pela Monsanto Roundup Ready, que apresentam uma tolerância maior ao Roundup, resistindo a ele enquanto ervas daninha, por exemplo, não resistem. Dessa forma, os agricultores podem aplicar o pesticida sem danificar a colheita, o que aumenta as vendas do herbicida. Robin aponta que, na Argentina, aumentou-se em quatro vezes o consumo de Roundup.

O documentário também trata de outros produtos da Monsanto, como hormônios bovinos que são injetados em vacas com a finalidade de aumentar a produção de leite. Segundo Robin, isso gera a necessidade de um maior uso de antibióticos. Entre 1994, quando o hormônio começou a ser utilizado, e 2002, teria havido um aumento de cerca de 55% na taxa de câncer de mama entre as americanas com mais de 50 anos. O mesmo hormônio é utilizado no Brasil

Numa das refeições que fez no país, Robin perguntou se haveria algum lugar em que poderia comer carne sem hormônios. Comeu peixe.

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