ISSN 2359-5191

12/12/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 144 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Os vírus contam a história da humanidade

São Paulo (AUN - USP) - Imagine um mundo sem doenças, infecções, pestes que varrem do mapa populações inteiras. Parece bonito, claro e desejável por todos. Mas saiba: a sociedade como conhecemos só existe porque vírus, bactérias e parasitas cruzaram – e cruzam – o nosso caminho o tempo todo. Esses pequenos seres têm sido protagonistas centrais e narradores, não meros coadjuvantes, do processo histórico, condicionando a existência humana, dizimando populações e estimulando conflitos. Esse é o tema do livro A História da Humanidade Contada Pelos Vírus, escrito pelo médico infectologista do corpo clínico do Hospital Oswaldo Cruz e ex-professor da USP Stefan Cunha Ujvari, lançado pela Editora Contexto (R$ 37,00).

Voltado para um público leigo, porém curioso, a obra tem por mérito oferecer uma leitura leve e didática, cujo intento é demonstrar, ao longo do curso histórico, como nossos hábitos foram moldados pelo aparecimento de certas doenças e como elas chegaram a nós: “Se eu fosse relacionar a humanidade com os microrganismos eu colocaria que nós, humanos, influenciamos o surgimento ou intensificação das doenças infecciosas. A domesticação dos animais é um exemplo de como surgiram vírus mutantes dos animais que originaram o sarampo e varíola. A agricultura é outro exemplo de como intensificamos a esquistossomose, malária, diarréias”, conta Stefan, que dedicou cerca de quatro anos a pesquisas baseadas em trabalhos científicos para a confecção do livro. O HIV é outra mostra de como o homem é atingido pelo contato com animais. Na África, foi prática corrente por um longo período a caça de chimpanzés para ingestão de sua carne. Desta forma, desde o início do século XX surgiram vírus mutantes nos primatas que passaram ao homem, por este manipular a carne e tecidos ensangüentados da espécie. A doença africana alastrou-se com maior facilidade devido às guerras de independência e guerras civis das nações africanas, aliadas a urbanização, migração de refugiados, prostituição e pobreza.

Outra questão analisada por Stefan é a nebulosa origem da sífilis, alvo de diversas discussões na comunidade científica e até hoje ponto de discordância entre especialistas. “De fato, este sempre foi um debate muito grande. A doença surgiu e disseminou-se pela Europa no final do século XV. A dúvida sempre consistiu em saber se a doença teria sua origem na América e foi levada para a Europa pelas embarcações do descobrimento, ou se já estava presente na Europa, mas ainda não havia sido identificada. No início do século XX, um grupo de médicos canadenses, em serviço humanitário na Guiana, deparou-se com infecções cutâneas nos índios nativos desta região. Ao isolarem a bactéria, seu DNA mostrou uma semelhança com a bactéria da sífilis. Portanto, a origem da doença residiria em solo americano, por meio da mutação do microorganismo causador de uma doença de pele, que passou a causar doença em mucosas genitais”.

Os efeitos dessa interação não estão restritos ao passado, pelo contrário. Com a genética definitivamente atrelada à área das ciências humanas, o século do genoma, como muito provavelmente virá a ser conhecido no futuro o século XXI, ainda guarda toda uma gama de labirintos e descobertas sobre os passos, passados e futuros, que escrevem a história da humanidade.

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