São Paulo (AUN - USP) -Depoimentos de diretores, cenógrafos, atores e intelectuais do teatro brasileiro revivem a história ainda recente da censura no livro “Censura, repressão e resistência no teatro brasileiro”, organizado pela professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) Maria Cristina Castilho Costa.
O livro faz ainda um breve panorama da repressão, evidenciando que, no Brasil, a ausência de um mercado de arte obrigou os artistas, desde o período colonial, a buscarem apoio do governo – a mercê da boa vontade estatal, esses artistas, se quisessem perdurar na profissão, eram forçados a conviver com a censura.
Para o crítico e professor da ECA, Clóvis Garcia a censura criou prejuízos e aberrações, por exemplo, ao exigir de grupos tipicamente improvisadores um texto escrito para a censura prévia e que esse texto fosse ainda seguido a risca em todas as apresentações. Ou ao permitir nudez no palco, contanto que a mulher não se movimentasse, caso houvesse movimentação o espetáculo seria suspenso e multado.
O diretor do Teatro Oficina, José Celso Martinez Correa, considera que a censura tinha um aspecto interessante “de promover a epifania dos tabus. Ela revelava com clareza o que importava ao regime e, sabendo disso, víamos que era aquilo que merecia ser atacado”. Para ele, desde 64 havia o conhecimento de onde e como a censura cortaria, “então era só cifrar mais a linguagem”.
Uma unanimidade entre os entrevistados é a existência atual da censura econômica, com as atuais leis criadas pelo estado brasileiro, que transferem para o setor privado a escolha de quais peças devem ou não ser patrocinadas. Considerando inclusive que este tipo de impedimento pode ser ainda mais perverso, já que vive-se em um falso clima de liberdade e democracia, estando as decisões todas nas mãos dos grandes empresários.
O Projeto Temático liderado pela professora Cristina Costa “A cena paulista: um estudo da produção cultural de São Paulo de 1930 a 1940” expõe a resistência que a classe teatral impôs aos censores cada vez que uma peça era impedida de ir à cena. As entrevistas obtidas no livro são apenas o desdobramento deste que é o maior projeto temático da área de humanas em todo o estado.
O projeto resgata a produção cultural e censória do Estado de São Paulo a partir da documentação do antigo departamento de censura de São Paulo, conhecido como Departamento de Diversões Públicas e agora nomeado Arquivo Miroel Silveira, em uma homenagem ao professor responsável pelo resgate dos documentos.