São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa sobre os acidentes de trabalho com líquidos corporais humanos ocorridos no Hospital Universitário, HU, resulta na análise de procedimentos que visam à segurança do trabalhador. Segundo o mestrado defendido recentemente por Ana Cristina Bálsamo (funcionária do hospital e membro da CCIH – Comissão de Controle de Infecção Hospitalar), os trabalhadores do hospital estão expostos a 22 tipos de doenças que podem ser transmitidas por fluidos biológicos. No entanto, apesar dos riscos para a saúde, às vezes os trabalhadores dispensam cuidados elementares.
Um exemplo disso é o de que apenas 35% dos funcionários acidentados receberam (antes do acidente) a vacina contra hepatite B, sendo que o hospital já havia promovido campanhas de vacinação contra esta doença e o Centro de Saúde mantém a vacina disponível para todos os trabalhadores do HU. Os funcionários, quando questionados, disseram que não providenciaram a devida imunização por “falta de tempo” ou “falta de ocasião”. Isso significa que, por diversas razões – como o medo ou o desconforto – o trabalhador opta por correr riscos de ser contaminado.
Além do mais, os funcionários não fizeram os exames sorológicos (pós-acidente) regularmente. Tais testes devem ser realizados com rigor, pois é possível, por exemplo, que o indivíduo adquira o vírus HIV e que, com apenas um exame de sangue, não o constate. Isso se deve a janelas imunológicas – momentos em que os vírus não podem ser detectados. Um descuido desse tipo poderia levar à contaminação de novas pessoas e a um retardamento do combate ao vírus.
Durante o período estudado, aconteceram 53 acidentes. No entanto, o número de participantes da pesquisa foi de 48 trabalhadores. Estes foram caracterizados segundo dados pessoais, função exercida na instituição, tipo de acidente e cuidados tomados.
Segundo a pesquisa, o maior número de ocorrências se deu entre os profissionais de enfermagem. Contudo, essa área é uma das que mais impõe riscos aos trabalhadores, visto que eles têm que lidar diretamente com pacientes, às vezes agitados (o que dificulta a execução de tarefas como aplicar medicamentos ou realizar pulsões venosas) ou manipular materiais contaminados com líquidos corpóreos.
No que diz respeito à seção do hospital que apresentou maiores freqüências, a Emergência ficou com o primeiro lugar, seguida da Clínica Médica e da UTI de adultos. Dos 48 casos, 40 foram de pessoas do sexo feminino e a maioria dos acidentes se sucedeu durante o período da manhã – horário em que o HU concentra boa parte de suas atividades.
Os equipamentos que mais estiveram envolvidos nos acidentes foram os perfurocortantes, com destaque para as agulhas de injeção e de escalpe. Estas últimas constituem um dado curioso, já que em outros hospitais-escola (como o da Unicamp, por exemplo) a incidência parece não ser tão acentuada.
Todos os acidentes tratados na pesquisa haviam sido notificados aos órgãos de segurança do trabalhador (CIPA e SESMT). Isso quer dizer que outras ocorrências podem não ter sido documentadas.