São Paulo (AUN - USP) - Desde antes da chegada dos portugueses ao Brasil, a mandioca é cultivada por todo o país. Base da culinária indígena, a raiz, também conhecida como macaxeira e aipim, entre outros nomes, já foi chamada até de “Rainha do Brasil”. Mas seu cultivo é normalmente relegado às áreas periféricas da plantações, apenas para subsistência, e sua produção tem caído constantemente, principalmente no estado de São Paulo. Essa “decadência” da mandioca é analisada pelo historiador Henrique Ataíde da Silva em sua dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da USP.
“O declínio do cultivo da mandioca não é um fenômeno recente, mas sim histórico, se iniciando em outras épocas”, afirma o historiador. Existem evidências arqueológicas de que a mandioca está presente na agricultura da América do Sul desde 2.500 A.C. Acadêmicos como Luís da Câmara Cascudo discutiram a importância do tubérculo na cultura brasileira. As técnicas de cultivo da mandioca, no entanto, permanecem praticamente iguais às da época do descobrimento.
Em sua pesquisa, Ataíde utilizou dados que demonstram uma queda consistente da produção da mandioca em São Paulo desde o século XIX, se intensificando na segunda metade do século XX. “Por ser o estado com a agricultura mais ‘modernizada’ do país, era de se esperar esse declínio. Desde o início do ciclo do café, e posteriormente, com o predomínio da produção de cana de açúcar, a mandioca e outros produtos tradicionais, como o feijão e o milho, tem sido relegados à posições marginais na agricultura paulista”, explica. O desmatamento e o êxodo rural que mandou muitos moradores do campo para a cidade também contribuíram para esse declínio.
A pesquisa de Ataíde traz informações interessantes, como a de que os escravos africanos consumiam a mandioca antes mesmo de virem ao Brasil. “A mandioca começou a ser exportadas de São Vicente e do Rio para a costa ocidental da África no começo da colonização do Brasil. Em Angola já no século XVII haviam roças da mandioca. Os escravos que chegavam ao Brasil, portanto, já tinham a raiz na sua dieta”, conta o pesquisador.
O trabalho do historiador utiliza conceitos da História Econômica e História Ambiental para discutir os fatores que levaram a essa queda nas plantações do tubérculo. Ataíde esmiúça a relação do homem com o meio natural para explicar a opção por determinados produtos na agricultura brasileira. “Fatores ambientais, culturais, sociais e econômicos contribuem para as condições de cultivo e consumo de cada espécie. Em São Paulo, todos esses fatores se combinaram para provocar o declínio da ‘rainha do Brasil’ no estado”, conclui Ataíde.