ISSN 2359-5191

16/08/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 14 - Meio Ambiente - Instituto de Geociências
Palestra discute ramo da geologia ligado a engenharia e meio ambiente

São Paulo (AUN - USP) - O nome pode até soar estranho aos leigos, mas o tema certamente é familiar. A geologia de engenharia, uma das ramificações práticas da geologia, é a ciência que trata das relações entre o meio físico e o tipo de uso que se faz dele. Ela responde a questões como onde dispor o lixo sem que contamine os lençóis freáticos ou o que fazer dos resíduos industriais, explica o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br), que realizou dia 21 de agosto a palestra “Geologia de engenharia: conceitos, métodos e prática”, no Instituto de geociências da USP (IGc-USP).

Voltada para os alunos de graduação, a palestra faz parte de uma iniciativa do Instituto de levar informações do exercício profissional, através de geólogos já formados, “para que os alunos tenham um balanço entre a teoria que é fornecida na escola e a prática real dessa teoria”. Através da exposição do conceito de geologia de engenharia e do detalhamento de um caso de aplicação (a relação entre expansão urbana, erosão, assoreamento e enchentes na região metropolitana de São Paulo), o palestrante procurou ainda despertar nos jovens geólogos a paixão por essa área de atuação profissional.

Como ciência, a geologia de engenharia surgiu há cerca de 50 anos, mas ela já vem sendo feita, mesmo sem ter ainda esse nome, desde os homens da caverna. “De algum jeito, eles faziam sua geologia, por exemplo ao escolher suas pedras para ferramentas”, afirma Santos. Segundo ele, na medida em que é responsável por melhor orientar as intervenções do homem no planeta, a geologia de engenharia tem uma grande importância na história da humanidade. “Ela é uma das ciências aplicadas mais responsáveis por definir se a humanidade vai ter sucesso ou não na superfície da Terra”.

No Brasil, essa disciplina surgiu no final dos anos 50 e teve uma explosão de crescimento até o fim da década de 70, período que corresponde ao das grandes obras de infra-estrutura, como hidrelétricas, estradas e túneis. Esse intenso desenvolvimento fez com que a geologia de engenharia do Brasil se tornasse uma das melhores do planeta. Hoje, nas regiões Sul e Sudeste, o campo de atuação para os profissionais dessa área já é muito mais expressivo do que o da geologia econômica (ramificação prática da geologia que lida com a prospecção de minérios, petróleo e água). Isso se deve, principalmente, ao aumento do nível de intervenção do homem na natureza e às pressões, não só da sociedade brasileira mas da comunidade internacional, para que o meio ambiente seja melhor considerado e respeitado.

Por ter surgido nesse contexto de obras de engenharia, no entanto, a geologia de engenharia brasileira ficou marcada pelo método de trabalho da engenharia. Mesmo na graduação, as disciplinas ligadas à geologia de engenharia em geral são ministradas na escola de engenharia, e passam conteúdos referentes mais à engenharia do que à própria geologia. Santos faz parte de um grupo de geólogos que vem criticando esse modo de trabalho desde meados da década de 70. “Percebemos que isso tira da geologia a sua melhor capacidade de fornecer informações”, afirma o geólogo. Somente se voltando para a percepção e compreensão dos fenômenos na relação entre obra e meio ambiente é que o geólogo pode concluir qual a melhor solução a ser implementada pela engenharia. “É claro que existe uma faixa de trabalho comum às duas áreas, dentro da concepção e do dimensionamento da solução para o problema estudado. Mas o trabalho do geólogo vai do diagnóstico do fenômeno até concepção da solução”, ressalta. E conclui: “falta os geólogos perceberem que geologia de engenharia é coisa de geólogo”.

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