São Paulo (AUN - USP) - Apesar de viver um período conturbado, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP voltará seus olhos, de 26 a 30 de agosto de 2002, para algo além da reposição das aulas perdidas na greve de mais de cem dias. O motivo é nobre: o seminário “Novos Caminhos e Fronteiras”, que comemorará o centenário de nascimento do historiador brasileiro, Sérgio Buarque de Holanda.
O evento, organizado pelo Departamento de História, contará com a presença de professores de diversas áreas, tanto de dentro quanto de fora da USP. A proposta é fazer um ciclo de debates interdisciplinar, que possa abranger a importância do intelectual nos diversos campos onde atuou e sobre os quais sua pesquisa se debruçava. “Sérgio Buarque foi uma pessoa inteiramente interdisciplinar. Não só porque ele mesmo veio da crítica literária para entrar na historiografia e na História, mas a reflexão dele é assim. Ele dialoga com a antropologia, com a sociologia, com a política, com a literatura, com o pensamento historiográfico, enfim, ele é um homem “transdisciplinar””, afirma a professora Zilda Iokoi, organizadora do seminário. Assim, professores como Aziz Ab’Saber (Geografia), Iná Camargo (Teoria Literária) e João Batista Borges Pereira (Antropologia) foram convidados a falar sobre Sérgio Buarque de Holanda sob o ponto de vista de seus campos de conhecimento.
As mesas-redondas foram organizadas em quatro temas, tirados do conjunto da obra do historiador. A intitulada “Populações em Movimento” terá como questão principal a demografia brasileira, em especial as populações indígenas e negras; “Natureza Revisitada” abordará o tema das fronteiras; “Paradoxos do Homem Cordial” trará discussões sobre história social e, por último, “Política e Liberdade” debaterá a visão de Sérgio Buarque sobre a estrutura da monarquia e da república brasileiras, bem como a sua opinião a respeito do internacionalismo comunista, explicitada no livro “Raízes do Brasil”.
A programação do evento traz ainda uma apresentação do Coral da USP, um show de Ana de Holanda e três conferências, uma delas com o depoimento de um ex-aluno e amigo de Sérgio Buarque de Holanda, o professor José Sebastião Witter. Encarregado de relembrar a figura de “Dr. Sérgio” – como ele mesmo o chama – e de traçar um panorama de sua obra, o expositor ressalta sua simplicidade, competência e habilidade de lidar com todo o tipo de aluno: “Com sua forma peculiar de ser, ajudava a quem precisasse dele e fazia da sala de aula um referencial para mostrar o quanto se pode fazer quando se sabe o que faz.”
Em meio a tantos eventos em homenagem ao professor Sérgio Buarque de Holanda realizados neste ano, o seminário organizado pela USP - cujo Departamento de História foi intensamente marcado pelas diretrizes de seu pensamento – promete trazer o diferencial de tomar a obra do professor como matriz de pensamento que estimulou o trabalho de novos historiadores. Dessa maneira, a discussão terá ênfase na produção historiográfica posterior à pesquisa de Sérgio Buarque, ou seja, daqueles que “beberam de sua fonte”.
Há, ainda, um projeto final de elaboração de um documentário e de um livro a partir do seminário. As inscrições para o evento podem ser feitas até 30 de agosto na secretaria do Departamento de História e custam R$15. Mais informações pelo telefone 3091-3701.