São Paulo (AUN - USP) - “No meio científico, as pessoas normalmente citam o trabalho de quem interessa, de quem poderá retribuir o favor. E as mulheres são excluídas disso.”, afirmou a socióloga e professora Eva Blay, chefe do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero da USP (NEMGE/USP), durante a palestra “Mulheres na Ciência: Por que estão ocultas as cientistas?”, ministrada no IPT na no dia 17 de março. O evento fez parte da programação do Mês da Mulher no IPT, promovido pela ASSIPT (Associação dos Trabalhadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) em parceria com o instituto.
Blay argumenta que o que falta às cientistas é o lobby da divulgação. “As mulheres que efetivamente rompem as barreiras sociais e se tornam cientistas, muitas vezes bem sucedidas, não tem o trabalho divulgado”, afirma. A professora citou os casos de Maria Pereira de Castro, que se dedicou à parasitologia animal, Zuleide Alves Ramiro, pioneira em pesquisas na área de engenharia agrícola, Vitória Roseti, pesquisadora da chamada “tristeza” e de outras doenças que atacam laranjais e Kate Schwarz, autora de 17 artigos científicos inovadores, todas quatro do Instituto Biológico de São Paulo e cujas descobertas foram essenciais para o desenvolvimento da agricultura nos moldes que é realizada hoje. “E, no entanto, quem já ouviu falar delas?”, indaga a socióloga.
A palestrante iniciou a discussão apontando as diferenças de tratamento entre gêneros que ainda são encontradas no mercado de trabalho. “Em cargos tecnológicos e técnicos em geral o número de mulheres é sempre muito menor que o de homens. O IPT não é exceção. São carreiras nas quais as mulheres ganham menos, mesmo que elas tenham a mesma qualificação que um homem na mesma posição. Isso precisa ser discutido.”
Eva Blay ainda falou sobre os estímulos sociais que são dados desde a infância a homens e mulheres e o quanto eles interferem nos interesses profissionais na vida adulta. “Desde que a criança nasce ela já começa a ser moldada para um determinado caminho, um determinado papel. Pela família, pela mídia, que sempre apresenta a mesma história da princesa que encontra o príncipe e o casamento como a realização da vida da mulher. É uma tragédia. E essa moldagem acaba se estendendo para as carreiras no futuro. É preciso desconstruir esses papéis que são tão limitados, para que se tenha mulheres e homens ocupando todas as funções.”, conclui.