São Paulo (AUN - USP) - O processo de inclusão escolar, ao contrário do que pensam muitos, eleva o nível geral da educação na sala de aula, de acordo com o presidente do Fórum de Educação Inclusiva, também professor na Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade Técnica de Lisboa, David Rodrigues. Segundo ele, não é possível ter educação de qualidade se ela não for inclusiva e não há inclusão sem educação de qualidade.
Em conferência realizada recentemente na Faculdade de Educação (FE-USP), David buscou demonstrar que as chamadas classes homogêneas, somente com alunos iguais, inexistem ou, se existem, são completamente artificiais. Contrariando a usual fala dos docentes “Para mim todos os alunos são iguais”, o professor aponta que cada aluno encerra uma particularidade e tem graus de deficiência distintos, seja para andar ou para resolver exercícios de matemática. Os professores deveriam, assim, assumir a heterogeneidade das salas de aula em vez de procurar as arbitrárias classes homogêneas.
A escola inclusiva, de acordo com David, não é “indiferente às diferenças” e reconhece que esta não é só característica de alguns, mas de todos. Não são somente os alunos com deficiências físicas que apresentam dificuldades. A favor da ideia de que o nível da qualidade do ensino aumenta com a inclusão, disse que “a aprendizagem não é via de mão única”. Mesmo o aluno com menos dificuldades pode aprender com os questionamentos daquele que tem mais problemas. E diferenças não são necessariamente algo negativo, mas sim “uma oportunidade”.
No processo de aprendizagem, nenhum aluno pode ser deixado para trás. Para o professor, a escola é formadora de cidadãos e todos devem ser instruídos a ter cidadania. E não é possível haver a formação de um cidadão, “com ‘C’ grande”, se a criança não terminar a escola. E para ele, não se trata de simplesmente freqüentar o ambiente escolar, mas sim, participar efetivamente de uma escola de qualidade.
A escola de qualidade seria uma instituição portadora de um ensino representante do desenvolvimento capaz de ser entendido pelas pessoas que venham a participar e a intervir “de forma útil, solidária e respeitadora dos direitos dos outros”. David afirmou que o mais correto seria falar sobre uma escola com qualidades, no plural, pois o conceito “qualidade” é relativo e muda de acordo com o tempo. Há valores objetivos de qualificação, como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), e subjetivos, como o grau de satisfação de um indivíduo ou grupo diante de uma determinada prática educativa. E cada valor, lembra o professor, é fruto de um ponto de vista, sendo somente um ângulo de visão dentre muitas outras possibilidades de ver.
Para o conferencista, 26 alunos é diferente de 24 + 2. E esses dois têm muito a enriquecer o aprendizado nas escolas onde a qualidade, ou qualidades, deve ser para todos, respeitadas as particularidades de cada um.
Onde investir
“É necessário criar redes”, afirmou David. Além de um trabalho cooperativo, deve-se investir na formação dos docentes, supervisão das práticas, liderança e sustentabilidade para continuar com os projetos de inclusão. Além disso são necessários recursos financeiros. Segundo o professor, ao contrário do Brasil que coloca o aluno deficiente em escolas regulares para diminuir gastos, o governo português se preocupa mais com o aluno do que com as despesas. Em Portugal, 96% das crianças deficientes estão na rede pública de ensino, há 6.500 professores só para apoiar as crianças com dificuldades e foram gastos, só no ano passado, €12 milhões nessas escolas.
As professoras da FE-USP, coordenadoras da conferência, Edna Antonia de Matos e Rosângela Gavioli Prieto, assinalaram a carência e a necessidade desses tipos de eventos na Universidade. E indicaram a leitura de livros do professor David Rodrigues como “Inclusão e Educação: doze olhares sobre a Educação Inclusiva” para mais esclarecimentos do público, bastante heterogêneo como são as salas de aula, na visão do professor.