São Paulo (AUN - USP) - Pacientes que apresentam quadros variados de insuficiência cardíaca poderão ser diagnosticados mais rapidamente graças à nova pesquisa que está sendo realizada pelo mestrando Guilherme Lopes Batista no Instituto de Química (IQ) da USP. O trabalho, que recebe colaboração do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas, revela que os pacientes com quadros variados de insuficiência cardíaca apresentam certas quantidades de acetona em meio aos gases que exalam durante a respiração. Essa descoberta pode facilitar a detecção da doença.
A pesquisa foi idealizada quando um grupo da Faculdade de Medicina da USP constatou a presença de um odor peculiar no hálito dos pacientes que apresentavam quadros de insuficiência cardíaca, da mais branda à mais intensa. Por esse motivo, Guilherme desenvolveu um método para analisar diversas amostras de ar exalado fornecidas por pacientes diagnosticados com a doença cardíaca. Embora a diabetes também cause a liberação de acetona durante a respiração (o que poderia afetar as conclusões tiradas pela análise do ar), os pacientes selecionados para a pesquisa não eram diabéticos.
Os resultados do estudo confirmaram a presença do composto químico no ar exalado pelos pacientes com insuficiência cardíaca, abrindo espaço para o desenvolvimento de um método que aplicasse essa descoberta aos hospitais. Para isso, foi desenvolvido um pequeno aparelho descartável de baixo custo que poderia ser utilizado nas unidades de saúde para realizar, de forma prática, a análise do ar exalado pelos pacientes. O mecanismo consiste em um pequeno recipiente vedado, cheio de água destilada e com dois canos finos que passam através da tampa. Um dos canos tem uma pedra com pequenos poros na ponta interior ao recipiente e o outro possui um saco de volume específico na ponta exterior.
Seu funcionamento acontece da seguinte forma: o paciente sopra pelo primeiro cano para dentro do equipamento. Ao chegar à pedra, o ar passa pelos pequenos poros e borbulhar através da água, permitindo a interação entre a água e a acetona. Por fim, o ar sai pelo outro tubo e preenche o saco acoplado na sua outra extremidade até que não possa mais entrar ar no sistema. Após isso, tanto a água é levada para a análise e o ar colhido no saco, que é usado apenas para medição de volume, é descartado. Assim, é possível determinar se o paciente pode ter insuficiência cardíaca ou, até mesmo, outras doenças. No entanto, ainda é necessário realizar mais testes para que se confirme esse diagnóstico prévio.
Os estudos sobre os compostos presentes no ar exalado já vêm sendo realizados há muitos anos e recebem uma atenção cada vez maior de cientistas. Um estudo realizado com 50 amostras de ar distintas revelou a presença de mais três mil compostos nessas amostras, revelando a complexidade e potencialidade da análise de ar exalado na compreensão da biologia humana e na detecção de várias doenças.