São Paulo (AUN - USP) - O grupo de cientistas brasileiros, liderado por Zehbour Panossian, do Laboratório de Corrosão e Proteção do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (LCP-IPT) apresentou seu estudo sobre corrosão por corrente elétrica alternada na última “Corrosion 2009 – Conference & Expo”, que reuniu mais de quatro mil profissionais do mundo inteiro da área de corrosão e engenharia. Promovida pela NACE International (Associação Nacional de Engenheiros de Corrosão, em sua origem), a conferência ocorreu recentemente em Atlanta (Georgia, EUA) e é referência mundial em conhecimento na área. Em função da representatividade de seu trabalho, Zehbour foi convidada pelo chairman do evento para ser a Revisora de Assuntos Fundamentais de Produção Catódica da conferência.
Até pouco tempo atrás, não se acreditava na existência de corrosão por corrente elétrica alternada, pois o dano provocado por correntes contínuas sempre foi muito maior e, portanto, principal objeto de estudo de engenheiros da área. “Esse assunto só entrou em pauta na década de 1990, principalmente na Europa, por causa dos trens bala, que utilizam corrente alternada. Começou a aparecer muita corrosão nas tubulações dessas instalações”, declara Zehbour. Após uma série de estudos realizados no Laboratório, verificou-se que correntes alternadas não só provocavam corrosão, como esta podia ser muito mais intensa do que a causada por uma corrente contínua.
A grande inovação, entretanto, se deu pelo desenvolvimento de um método de medição desse tipo específico de corrosão. “O grande problema era descobrir uma forma de medir essa corrosão no campo. Já haviam muitos trabalhos aplicados, mas nenhum método de medição. Antes, media-se o potencial de corrente alternada e o potencial de corrente contínua. O que fizemos foi medir o potencial do acoplamento da corrente alternada com a contínua e tirar o efeito da queda ôhmica no solo. Com isso, conseguimos o potencial de interface, que é o responsável pela corrosão”, explica a pesquisadora.
A partir disso, pode-se prever, a partir da intensidade da corrente alternada, a profundidade e a velocidade do dano a ser provocado. “Por exemplo, se passava uma linha de trem ou uma linha de alta tensão de distribuição de corrente alternada perto de um duto, não havia como saber se estava acontecendo corrosão ou a intensidade com que ela ocorria. Agora isso é possível”, diz Zehbour. Isso levará ao desenvolvimento de métodos de proteção, bem como, de novo materiais mais duradouros e resistentes. Milhões de reais poderão ser economizados pela indústria.
O estudo, uma parceria com a Petrobrás, já tem dois anos de duração e tem rendido bons frutos ao Laboratório, como seu reconhecimento na Corrosion 2009. “Estamos conseguindo levar o trabalho do laboratório, que é uma colcha de retalhos, para a realidade, com conhecimento profundo teórico e aplicabilidade prática”, conclui Zehbour. O método de medição desenvolvido pelo LCP está em processo de patenteamento.
Um novo Laboratório de Corrosão e Proteção está previsto para ser entregue em julho de 2009. A nova infraestrutura, com o dobro de área de seu predecessor, está sendo construído com um investimento de R$17 milhões da Petrobrás.