São Paulo (AUN - USP) - O documentário “Inezita Barroso: A voz e a viola” , que resgata os importantes acontecimentos na vida desse ícone da música caipira, vai ser distribuído gratuitamente para escolas públicas do estado de São Paulo. O filme é uma co-produção da Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA-USP) e da TV Cultura, foi lançado na ECA e exibido em 11 de abril pela TV Cultura na estréia da série de Grandes Personagens Brasileiros.
“A voz e a viola” traz trechos de interpretações de sucessos de Inezita, mostra antigas fotografias, depoimentos de amigos e colegas de trabalho, como Paulo Autran, Renato Consorte, as irmãs Galvão, Paulo Vanzolini e Tônia Carrero. Intérprete de sucessos como Marvada Pinga, Inezita começou sua carreira artística há mais de 50 anos. Fez shows, cantou no rádio, fez cinema e televisão e desde 1980 comanda o programa “Viola Minha Viola”, na TV Cultura.
A produção do documentário com direção de Guilherme Alpendre, ex-aluno ECA, envolveu estudantes de Jornalismo e Audiovisual da ECA e do Jornalismo da PUC. A ideia surgiu quando Guilherme cursava a disciplina “Documentários em Vídeo” , ministrada pelo professor Renato Levi, coordenador de “A voz e a viola”. O filme foi elogiado pela pró-reitoria de Cultura e Extensão da USP por exemplificar a “expressão máxima da extensão universitária”. Conforme Guilherme, a ideia “tomou proporções muito além do que eram esperadas”.
Guilherme disse que o material para a construção do documentário foi vasto, e teve minunciosa pesquisa e seleção. A equipe assistiu grande parte do arquivo de Inezita na TV Cultura, gravou várias entrevistas e vasculhou o arquivo pessoal da cantora. “Fomos ganhando intimidade com Inezita. Ela nos contou muitas histórias, tem boa memória e é muito detalhista”, comentou Guilherme. A cantora guarda diversas reportagens escritas sobre ela em cerca de 20 álbuns com recortes de jornal, fotos e páginas de revistas.
Inezita Barroso é graduada em Biblioteconomia pela USP e é professora de Folclore. Na estréia do filme ela fez comentários e conversou sobre cultura, música, folclore, cultura de massa e educação. Falou que abraçou a missão de divulgar a cultura caipira e combater o preconceito. “Antes chamar de caipira era xingação, sempre o caipira era focalizado como doente, amarelão, preguiçoso, vagabundo, com bicho de pé, agora não é mais assim”, e finalizou: “Para mim é uma glória ser caipira.”
A cantora criticou aspectos do atual estilo sertanejo: “Não tem nada a ver moda de viola com esses “sertanejos de butique” , eles são modismo e coisa de moda está fadada a passar”. Inezita diz acreditar que o cantor caipira não compõe com o objetivo de ter sua música gravada. Faz isso por algo mais profundo, para expor sentimentos e homenagear santos. Para ela em alguns sertanejos recentes “as letras são bobas, é tudo igual, o povo cansa, eles dublam, repetem, repetem e pular e correm no palco”.
Incentivadora das tradições folclóricas do Brasil, Inezita foi chamada por Arley Pereira de “Mário de Andrade de saias”. Quando questionada sobre o título, Inezita gargalhou tímida: “Quem sou eu para ser comparada a Mário de Andrade?”. Com simplicidade, disse que se esforça para divulgar o folclore brasileiro e difundir a cultura caipira: “A viola e a música caipira estão no meu sangue, está na minha raça”.