São Paulo (AUN - USP) - “Com a globalização e todo o desenvolvimento dos últimos anos, não deveria haver mais pobreza nem miséria em nosso planeta. O avanço da humanidade não é usado a favor da humanidade.” A afirmação é do professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Dalmo de Abreu Dallari, em palestra na qual falou sobre a contradição entre avanços econômicos ou tecnológicos e desigualdades sociais.
O professor defendeu um melhor uso do desenvolvimento, em prol da sociedade. A palestra fez parte do Colóquio Internacional Tolerância e Direitos Humanos: Diversidade e Paz.
Para Dallari, os avanços na área das comunicações, na economia e na tecnologia pelos quais a humanidade passou nas últimas décadas deveriam ter atenuado problemas de distribuição de renda e desigualdade social
A falta de preocupação das camadas mais abastadas com a situação dos mais pobres foi mais um assunto da palestra. “A pessoa humana tem um valor inferior. Para os mais ricos, para as grandes empresas, podem estar com fome, podem morrer que não gastarão seu dinheiro”, disse Dallari.
Dallari falou também que existe muito egoísmo no mundo contemporâneo, e que isso se agrava com o que ele chama de exploração do medo. “O medo causa tanto impacto nas pessoas, que para resolver um problema como a violência no Rio de Janeiro, elas até defendem soluções absurdas como destruir a favela”, explica o professor.
Discutindo o preconceito, o professor citou o caso dos índios brasileiros para demonstrar que este só aparece quando “não se quer conhecer a realidade, os dados concretos, e já se parte de uma conclusão”. “Tem muita gente que defende os índios são um atraso para o país, que a cultura deles deve ser esvaziada. Dizem que há muita terra pra pouco índio no Brasil. Hoje, eu vou ao Morumbi, aos Jardins, e só vejo casas gigantescas, com piscina, quadra de tênis e tudo mais. Acho que é muita mansão pra pouco branco”
Como solução para estes problemas, Dallari disse que a Constituição, noções de liberdade e igualdade, devem ser o ponto de partida para todas as discussões, mas que estas devem ser postas em prática também. “Nós podemos fazer muito se houver determinação. A dignidade deve ser nosso valor fundamental, temos de trabalhar nisso”.