ISSN 2359-5191

13/05/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 23 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Memória é indispensável para a compreensão do passado

São Paulo (AUN - USP) -Somente com o apoio e confiança de quem passou por determinadas situações é que podemos conhecer o passado e projetar o futuro. Essa é a opinião de Eugênia Meyer, professora na pós-graduação em História da Universidade Nacional Autônoma do México, especializada no campo da história social e das mentalidades. Na luta do historiador contra o esquecimento, deve-se recuperar a memória e, para a professora, essa recuperação é uma arte. Mais do que isso, é uma das únicas formas de fazer com que atrocidades não sejam esquecidas.

A história está em constante construção e a necessidade de conhecê-la e a tentativa de compreendê-la devem estar sempre presentes nas ambições humanas. Eugênia acredita que ver a memória como uma fonte secundária do estudo da história é reduzir o papel de um agente capaz de inserir nos fatos contextos sócio-culturais, tradições e até uma diversidade interpretativa e de vivência sobre o ocorrido. É claro que não se pode considerar lembranças como provas irrefutáveis de acontecimentos históricos, entretanto fontes oficiais e documentos famosos também não o são. O indispensável é haver um questionamento constante e a recordação dinâmica e rica deve ser parte desse modo de agir.

Apesar de haver uma memória individual, baseada em experiências particulares do ser humano e influenciada por sua compreensão e versão de fatos, não se pode deixar de considerar que um relato sempre carrega consigo uma memória também coletiva. Nunca se está só, em nossa existência os objetivos e trajetórias são frutos de uma integração com o outro. Isso necessita ser respeitado ao se analisar o discurso e, somado a essa integração, deve-se considerar que esse grupo de pessoas reflete, senão toda uma cultura, ao menos uma tendência da época a qual pertence. Tal espírito de coletividade que a experiência individual é capaz de possuir é o que faz possível a emoção de um indivíduo frente a um memorial. Quando se depara com algo que remete ao passado de sua espécie, sente-se próximo e se emociona.

Para a professora, no momento em que os estudiosos utilizam essa diversidade de vozes em seu método passam a conhecer mais do que datas; passam a observar o ser humano em sua complexidade, o que dificulta julgamentos e faz da história algo mais plural. Quanto mais heterogeneidade houver nas interpretações, mais pessoas se identificarão com o passado e o resultado é uma sociedade que se sente no direito e na obrigação de cobrar do poder a condenação de atos contra a humanidade e a não permitir repetições de erros.

Eugênia Meyer ainda frisa a coragem necessária para testemunhar. A cada detalhe contado, muitas pessoas, revivem um grande drama. Contudo é nessa riqueza de minúcias possuídas por somente quem as viveu são encontrados o diferencial e a importância da memória para as Ciências Humanas. A discussão de fatos por várias vozes é um dos maiores valores da história; é assim que a diversidade e a cultura podem ser respeitadas e preservadas. Para ela, calar ou não ouvir, quando não é indiferença, pode ser complacência.

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