São Paulo (AUN - USP) - Caos na economia argentina e uruguaia, crise política na Venezuela, crise militar na Colômbia e o Brasil absolutamente suscetível a um desarranjo econômico tão intenso ou pior que o de seus vizinhos. O cenário é tenebroso e é sobre ele que se debruça, de 17 a 19 de setembro, o simpósio “A Encruzilhada da América Latina”, apoiado pelo Departamento de História da USP e pelo PROLAM-USP (Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina).
A programação do evento trará 12 temas divididos em quatro sessões diárias, que passarão pelos principais pontos de discussão na América Latina hoje, como a universidade na crise latino-americana, a dívida externa, as lutas sociais no continente, a política americana para a América Latina, as perspectivas brasileiras e as saídas políticas para a região. A oportunidade de debate proporcionada pelo simpósio é raríssima, uma vez que conseguirá reunir não somente representantes de Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Venezuela e México, mas trará para a discussão acadêmicos com importantes pesquisas na área e membros dos principais movimentos populares atuantes na América Latina.
O assunto é polêmico e o simpósio, político por excelência. A assumida politização trouxe graves entraves à realização do evento, que conta com escassos recursos financeiros devido à relutância da USP em promover encontros desse caráter pela Instituição. Essa tendência de não envolvimento político permeia a maioria das universidades latino-americanas, diferentemente das norte-americanas e européias que, segundo o professor Osvaldo Coggiola, principal organizador do evento, “são menos conservadoras, apesar de, teoricamente, deverem defender os interesses de seus próprios países”.
Mesmo a pesquisa sobre a América Latina tem pouco estímulo para o seu desenvolvimento. Apesar de abrir um espaço institucional para a realização desses estudos, o PROLAM ainda não é considerado um programa de grande importância sendo, assim, insuficiente para suprir a necessidade de aprofundamento e discussão dos problemas do continente. Há ainda o agravante de a pesquisa no campo da política ser minoria em relação aos estudos sobre a cultura latino-americana, refletindo a falta de incentivo para a implementação de trabalhos nessa vertente, muito mais polêmicos e difíceis de lidar do que os culturais. O desestímulo à pesquisa política não significa, porém, que não haja interesse pelos alunos e pela a sociedade em geral no assunto. É por esse motivo que simpósios como “A Encruzilhada na América Latina” “lotam anfiteatros enquanto muitos eventos com grande apoio institucional têm pouca repercussão, apesar da ampla divulgação”, afirma o organizador do simpósio.
A USP e a universidade latino-americana de maneira geral não têm acompanhado – por meio de discussão e pesquisa – as recentes transformações e a iminência de enormes mudanças que a América Latina vem sofrendo. Por simples falta de verba ou por conservadorismo, a universidade deixa de cumprir seu papel social de ser o local para o debate e a pesquisa, fazendo com que partidos políticos - que não têm condições de desenvolverem pesquisa – assumam sozinhos o peso de trazer propostas para seus países. O resultado é, na maioria das vezes, a superficialidade.
O simpósio vem, nesse sentido, cobrir a lacuna deixada pela universidade em um de seus alicerces: a extensão acadêmica. Com o objetivo de suscitar o debate político na sociedade em geral, o evento trará ao grande público o acesso a idéias e iniciativas que vêm ganhando força e muitas vezes têm trazido resultados positivos em seus países de origem e que, segundo o professor Osvaldo Coggiola “são a esperança de uma América Latina melhor, de uma outra América Latina”.