São Paulo (AUN - USP) - Não faz sentido falar em 75 anos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP). Essa é a opinião da professora do Departamento de Sociologia da faculdade, Irene Cardoso, em palestra do evento “FFLCH 75 anos: Compromisso com o Brasil”. Para ela, a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) e da FFLCH são momentos políticos e históricos distintos que devem ser analisados separadamente.
A FFLCH comemora junto com a USP, 75 anos. Entretanto essas comemorações se dão baseadas na data de criação da FFCL. Para a professora, deve-se entender o contexto de criação dessa faculdade. Desde os anos 20, havia um projeto político cultural no qual se insere a inauguração da USP. Nesse âmbito, a Faculdade de Filosofia tinha por fim ser pólo centralizador e articulador da universidade. Entretanto isso não ocorre. A USP não se configura como formadora das elites dirigentes e a FFCL não se constitui como centro articulador das disciplinas básicas.
A FFCL funcionou em vários locais até se fixar na Rua Maria Antônia em 1948, local onde permaneceu até 68. Na década de 60 foi quando começaram as maiores mudanças. Em 61, o presidente João Goulart veta o projeto o qual colocava a Faculdade ao lado das demais escolas. Em 63, no simpósio sobre estrutura das faculdades de Filosofia realizado em Brasília, chega-se a um consenso em torno do desmembramento da FFCL em departamentos autônomos. Em 65, é declarada a autonomia de pesquisa aos institutos.
Entretanto é em 68/9 que as maiores mudanças acontecem – ocorre a separação total dos institutos. Os departamentos são divididos e a Faculdade vai para o Butantã, na Cidade Universitária. É nessa conjuntura, de institucionalização dos departamentos e clima de repressão vindo da Ditadura Militar que surge a FFLCH. Não há mais proposta de núcleo centralizador ou articulador, a reforma imposta restringe a Faculdade somente à especialização. Por isso, para Irene Cardoso, faz mais sentido falar de 40 anos de FFLCH.
Mais uma peculiaridade que a Faculdade assumiu depois de 1968 foi a não-divisão dos cursos de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. A professora acha interessante questionar essa manutenção dos cursos em conjunto, no mesmo ambiente. Ela acredita que muito se deveu à posição política alinhada à esquerda herdada da FFCL. Além de que a postura de intervenção em assuntos “extra-muros” como luta contra fascismo, caráter laico e resistência à ditadura influencia na pesquisa e as mantém unidas.