ISSN 2359-5191

13/06/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 33 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Construir pontes é trabalho do jornalista

São Paulo (AUN - USP) - O jornalista deve ser um antropólogo, principalmente aquele que está em outro país, realizando uma cobertura no exterior. Para o correspondente internacional, o estudo do mito está sempre presente em seu trabalho. “Quando se está num país como correspondente, você mergulha na cultura desse país, um certo número quase infinito de valores, discursos e definições culturais.” A construção de pontes entre a cultura do país sobre o qual escreve e para o qual escreve é a tarefa principal do correspondente internacional segundo João Batista Natali. Natali é jornalista da Folha de S. Paulo, foi correspondente do jornal na França durante os anos 70 e é autor do livro “Jornalismo Internacional”, pela editora Contexto.

“Há questões que são referenciadas culturalmente, outras são evitadas pela sociedade”. Todas essas questões são fundadas nos mitos. O sociólogo e antropólogo polaco do séc. XX, Malinowski, considerava o mito como um dos elementos fundamentais na constituição cultural de um grupo. Em “Dicionário da Filosofia”, ele diz: “O mito não é uma simples narrativa, ele cumpre uma função intimamente ligada à natureza da tradição, à continuidade da cultura”. Assim, como falou Natali, de acordo com os mitos, você conhece a cultura de uma sociedade e mergulha em seus principais temas, seus “totens e tabus”. Isso é essencial para o jornalista internacional encontrar suas pautas. “A pauta é cultural, ela é mitológica”, completa Natali.

Porém, conhecer os mitos de uma cultura não é garantia de um bom correspondente internacional. Para ser realmente bem sucedido, o profissional deve ir além. “O grande sucesso do correspondente é quando, ao invés de alimentar a mitologia, cede direito ao paradoxo”. O jornalista formado na primeira turma da Escola de Comunicações e Artes da USP citou como exemplo os mitos brasileiros. “O Brasil exala mitologias do tipo ‘floresta amazônica’, ‘mulatas’ e ‘desigualdade social’, por exemplo”. É muito comum o jornalista estrangeiro que está no país se pautar nesses assuntos. Uma pauta que atualmente repercute bastante na mídia internacional é o presidente Lula. Porém, de acordo com Natali, na França, “um leitor sério como o do Le Monde realmente acredita que o Lula seja um presidente de esquerda, mas nós sabemos que não é verdade”.

Citando Aristóteles, Natali exemplifica a diferença do que foi chamado pelos gregos de dóxa - a verdade aparente, que, no caso do jornalismo, seria o estereótipo e o superficial – do paradoxo. O paradoxo é “uma visão menos ideologizada” e é fundamental para que o jornalista vá além da mitologia do local. Seus exemplos foram casos na América Latina, como a Venezuela. Para Natali, a grande dóxa é que Hugo Chávez, presidente venezuelano, seja um farol luminar na esquerda americana. A paradoxa é que ele é um ditador. O jornalista foi categórico, “só com uma visão paradoxal é que podemos ser decentes como correspondentes”.

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