São Paulo (AUN - USP) - Profissionais da área de saúde encontram dificuldades na transição para o Programa de Saúde da Família (PSF), uma estratégia, proposta pelo Ministério da Saúde, de reformulação do atendimento. Esse foi o resultado das pesquisas feitas por Lislaine Aparecida Fracolli e Elma Zobolli, professoras do Departamento de Saúde Coletiva, da Escola de Enfermagem da USP. A necessidade de os médicos e enfermeiros mudarem da mentalidade de resolutividade para a de acolhimento, promoção da saúde e prevenção é o maior obstáculo.
O Programa de Saúde da Família foi criado em 1994 pelo Governo Federal e, após experiências positivas no Ceará e em Santa Catarina e com subsídios para os municípios que o implantarem, vem sendo adotado pelo restante do país. Esse projeto propõe substituir a consulta médica por equipes que visitam a população, criando um vínculo com as famílias e tratando os problemas como sendo sociais e não biológicos. Cada equipe, formada por um médico, um enfermeiro, um assistente de enfermagem e os agentes comunitários, é responsável por 1000 a 1200 famílias.
Entretanto, a adaptação dos profissionais da área a esse novo método de atendimento tem sido complicada. A consciência de que numa consulta a busca da cura através do medicamento é o essencial prejudica e aliena as pessoas. Assim, o processo de acolhimento, que prioriza a descoberta das razões socias da doença através da conversa, não é aceito pelos médicos e enfermeiros. Segundo Lislaine, ao entrevistar aqueles que começaram a trabalhar com essa lógica, eles dizem: “Só conversei, não fiz nada”.
Além disso, os profissionais que começam a trabalhar no PSF normalmente são especializados em determinado assunto, como pediatria, cardiologia etc. Porém, nas visitas às comunidades eles vão enfrentar todos os tipos de casos, como gestantes, doenças infantis, idosos hipertensos etc. Para resolver isso, o Ministério da Saúde propõe parcerias entre fundações privadas, o setor público e universidades para, através de cursos, viabilizar a capacitação de enfermeiros e médicos para trabalhar no programa. Esses cursos procuram transformar os especialistas em generalistas que atendam todos os casos. Existem também outros, mais amplos, que têm como objetivo formar um “especialista em saúde familiar”.
A professora Lislaine acredita que, daqueles que fazem o curso, 40% ou 50% mudam o seu método. “Os outros precisam do que a gente chama de supervisão: frequentemente uma pessoa sentar com eles, discutir o que fizeram e apontar a lógica recomendada”, completa. “Não é qulaquer instrumento pedagócio que consegue fazer a pessoa superar essa visão anterior e incorporar uma nova”.
O impacto do PSF no mercado de trabalho também tem sido um obstáculo. No estado de São Paulo, por exemplo, são 1480 equipes para 348 municípios e a meta é 2500 equipes. No Brasil, a meta é 20 mil equipes até 2004, o que significa 20 mil médicos e 20 mil enfermeiras, sendo que o grande contingente desses profissionais está nos hospitais. Portanto, seria necessária uma debandada desse pessoal dos hospitais para a unidade básica de saúde, algo que já está ocorrendo porque os salários do PSF são muito mais competitivos do que os de diversos hospitais. Com isso, os hospitais acabam sofrendo uma baixa pois são obrigados a melhorar os salários para segurar seus funcionários ou tem uma queda na qualidade do atendimento pois têm que sempre estar contratando recém-formados ou uma pessoa menos qualificada.