São Paulo (AUN - USP) - Contaminações comumente relacionadas a atividades industriais podem ocorrer por causas naturais ou decorrentes da ação extrativa humana não-industrial - entre elas, erupções vulcânicas e uso da água de aqüíferos. O tema foi explicado pelo pesquisador e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Unicamp (Nepam – Unicamp) Bernardino Figueiredo, em palestra no Instituto de Geociências (IGc – USP).

A demora na detecção de contaminações por causas naturais relaciona-se à situação da sociedade pós-Revolução Industrial – a chamada “Sociedade de Risco” – na qual substâncias conhecidas e desconhecidas foram manipuladas em larga escala e sem prévios estudos. Nesse contexto, os estudos das substâncias provenientes de agentes naturais são deixados em segundo plano. Por outro lado, a falta de consolidação da profissão Geologia Médica também influi, pois ela teria a multidisciplinaridade necessária para prever com maior êxito tais possibilidades.

Como exemplo, Bernardino relata a contaminação crônica por arsênio ocorrida em Bangladesh, detectada em 1998. Lá foram encontrados 50 microgramas de arsênio por litro de água no aqüífero que a fornecia para a cidade – 40 microgramas a mais que o máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Apesar de sondarem as indústrias, foi descoberto mais tarde que o causador era o alto consumo de água pela populosa cidade. Ele permitiu que grande quantidade de oxigênio entrasse em contato com a perita arsenical presente no subsolo e essa, ao ser oxidada, liberou o arsênio para a água.

O geólogo cita também estudos recentes, mas ainda não comprovados, da possibilidade de contaminação por mercúrio ocasionada pela erupção do vulcão de Pinatubo, no Chile. Em dois dias, teriam sido expelidas 800 toneladas da substância. A erupção ocorreu em 1991.

Esses dois casos apontam para o maior investimento em setores da geologia como outro fator necessário para a contenção de contaminações, além da fiscalização de indústrias e conscientização da população.