São Paulo (AUN - USP) - Não se pode atribuir a culpa dos distúrbios da personalidade de crianças aos jogos de computador ou `a mídia, é necessário compreender a complexidade dos processos culturais. “Mesmo os jogos virtuais violentos podem ser benéficos, uma vez que ajudam a criança a processar seu instinto de agressividade ou a violência física ou real que sofreu”. É o que diz Claudemir Edson Viana, pesquisador do Lapic, o Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação, da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP).
O professor Claudemir relacionou jogos virtuais com a aprendizagem infantil e diz que jogos violentos não são necessariamente os grandes culpados pela indisciplina. Defende ainda que estes podem ser benéficos porque fazem a criança canalizar seu sentimento de violência. Assim a criança processa a violência que sentiu e reage contra a ameaça através de seu imaginário ao brincar com jogos e assistir desenhos animados. O pesquisador afirma que faz parte do desenvolvimento infantil a disputa por espaço e atenção: “Algumas crianças brigam na escola, outras fazem chantagem, outras brincam com jogos violentos”.
As estruturas e relações sociais são mais relevantes do que os meios de comunicação na formação da personalidade infantil. Claudemir detectou que cada criança recebe a informação transmitida pela mídia de forma diferente, processa esses dados de acordo com o histórico de vida e do nível de cognição. Para ele o contexto sócio-familiar é muito mais significativo do que o mundo virtual: “A família ainda é a base”.
Na infância é importante conhecer o mal para entender o bem e desenvolver a consciência do que é certo e errado. “A criança não é uma folha em branco que apenas recebe informações e as reproduz, tem um repertório próprio e não é completamente manipuladas pela mídia, como diz o senso comum”.
O excesso de tempo dedicado aos jogos digitais e televisão são maléficos. O pesquisador defende o uso equilibrado de internet, jogos de computador e video-game, e aponta que todas essas multimídias podem auxiliar no processo de aprendizagem. E que a criança não é um ser totalmente passivo: “Ela entende o que é “de mentirinha”.
Propõe que os educadores abandonem preconceitos e utilizem as mídias no ensino. Claudemir utilizou jogo de xadrez online para ensinar História da Idade Média para crianças. Afirma que são muitas as possibilidades lúdicas e educativas dos jogos virtuais, que promovem o desenvolvimento de uma noção de tempo e espaço, movimento, cores. “Mas falta de embasamento teórico nas universidades para ensinar os futuros professores a lidarem com esses recursos digitais em suas práticas pedagógicas”.