São Paulo (AUN - USP) - Um novo método para a detecção de nitrito em soluções foi apresentado durante um seminário realizado recentemente no Instituto de Química (IQ) da USP pelo doutorando Juan Claudio Mancilla Gamboa. Com esse procedimento, pode-se detectar a presença de nitrito na água antes que ele seja ingerido por pessoas. Quando em altas concentrações no corpo humano, esse nitrito pode causar sérios problemas de saúde.
O nitrito é um elemento que está naturalmente presente no meio ambiente como parte do ciclo do nitrogênio, necessário para a sobrevivência das plantas. No entanto, atividades industriais e agropecuárias, como a utilização de adubos nitrogenados, em conjunto com resíduos caseiros e industriais sem tratamento, causam um desequilíbrio nesse ciclo, aumentando a quantidade de nitrito no meio ambiente e, consequentemente, no corpo das pessoas. Dentro do corpo, o nitrito oxida o ferro (Fe2+) presente nas hemoglobinas para Fe3+, transformando-as em metahemoglobinas, que não possuem capacidade de transporte gasoso. Quando em concentrações muito altas, a metahemoglobina pode causar a morte.
Além disso, é comum que bebês menores de dois anos sejam afetados, apresentando sintomas de uma doença conhecida como Síndrome do Bebê Azul. Isso acontece mais facilmente com crianças dessa faixa etária devido à menor acides de seus estômagos, criando um ambiente mais propício à oxidação, e devido à ausência de uma enzima recuperadora de metahemoglobina, a NADH-citocromo b5 redutase. Outro risco é o do encontro do nitrito com aminas ou amidas, formando nitrosaminas ou nitrosamidas, altamente cancerígenas.
O procedimento desenvolvido pelo doutorando varia um pouco do que é mais comum na eletroquímica, que é o uso de eletrodos de carbono vítreo modificados com filmes, pois faz uso da técnica de ativação para modificar a superfície de um eletrodo de cobre, que é o que será utilizado na detecção do nitrito. A ativação funciona da seguinte forma: o eletrodo de cobre é submetido a um potencial elétrico positivo, causando sua oxidação, o que libera cobre na solução. Após isso, aplica-se um potencial negativo ao eletrodo, fazendo com que o cobre liberado sofra redução e se acumule do forma desordenada sobre a superfície do eletrodo, aumentando sua superfície de contato com a solução e viabilizando a detecção do nitrito. Com o eletrodo modificado, aplica-se um potencial que faz com que o nitrito emita uma sinal de corrente de força equivalente à sua concentração na solução.
O método utilizado por Mancilla faz uso de todas as vantagens comuns à eletroquímica, que é a baixa utilização de reagentes, o baixo custo, a possibilidade de miniaturização e a grande portabilidade do equipamento. Além disso, a ativação permite que a modificação do eletrodo seja feita em questão de segundos, coisa que levaria muito mais tempo para ser realizada com a aplicação de um filme em um eletrodo de carbono vítreo.