ISSN 2359-5191

16/07/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 48 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Pesquisadores investigam relação entre genética, alimentação e câncer

São Paulo (AUN - USP) - Um número significativo de evidências mostra que pessoas que consomem mais frutas e verduras têm menor risco de morrer de câncer. Estima-se que cerca de 30% dos cânceres no mundo estariam relacionados à nutrição e, portanto, seriam passíveis de prevenção por meio de hábitos alimentares saudáveis. A afirmação é do professor Thomas Ong, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

Ele afirma que frutas, verduras e hortaliças contêm, além dos nutrientes “clássicos”, milhares de compostos bioativos, isto é, substâncias cuja função ainda não é totalmente conhecida pela ciência. A equipe de Ong busca investigar quais seriam os compostos bioativos que se relacionariam à proteção contra o câncer.

Alguns dos compostos relacionados à prevenção da doença que já foram identificados são os compostos fenólicos (presentes no vinho tinto, por exemplo), compostos sulforados (encontrados no alho) e isotiocianatos (na couve e no brócolis). Há também os carotenóides, como o licopeno, presente no tomate e relacionado sobretudo à prevenção do câncer de próstata. Outros carotenóides importantes são a zeaxantina, disponível no milho, e a luteína, encontrada em hortaliças como a couve.

O professor Ong explica que outro grupo de substâncias estudado é o dos derivados isoprênicos, amplamente distribuídos em frutas e hortaliças. Exemplos desses compostos são o geraniol, encontrado no limão, o farnesol, presente no morango, e a betaionona, disponível em uvas.

Ele também chama a atenção para as substâncias cuja atividade protetora não foi comprovada pelo seu modelo de estudo. “A pesquisa é complexa e nem sempre funciona como esperamos”, comenta Ong. É o caso do esqualeno, presente no azeite de oliva, que acabou se mostrando ineficiente para a proteção contra o câncer de fígado, pelo menos nos moldes da pesquisa do professor.

Quem iniciou essa pesquisa no Laboratório de Alimentos e Nutrição Experimental foi o professor Fernando Moreno, que no fim dos anos 1980 começou a testar as propriedades do betacaroteno, uma pró-vitamina A, e a sua relação com o câncer. Ele estabeleceu o grupo e atualmente o coordena ao lado de Ong. A pesquisa tem dois parâmetros principais, segundo Moreno: um é descobrir se a substância em foco protege ou não contra o câncer, e o outro é identificar quais são os mecanismos por trás dessa proteção.

Ong, contudo, está iniciando uma nova perspectiva de estudo. “O grupo de pesquisa tem uma tradição de estudos a respeito da carcinogênese do fígado mas, já há algum tempo, tenho me preocupado também com a questão do câncer de mama”, afirma. Ong explica que certa vez se perguntou se uma substância que tinha uma ação muito importante na carcinogênese do fígado, também não teria influência no câncer de mama. Essa substância é a tributirina, composta de três ácidos butíricos, e que está presente no mel e em laticínios.

A tributirina teve uma ação protetora no modelo de pesquisa dos professores e foi detectado que ela estava interferindo em um fator classificado como epigenético. No câncer atuam tanto mecanismos genéticos, envolvendo DNA e genes, quanto epigenéticos, ligados à metilação do DNA e à acetilação de histonas (proteínas em que o DNA está “enrolado”). “É muito difícil interferir nos mecanismos genéticos, que são estáticos e já definidos”, explica o professor Moreno, que coordena a pesquisa ao lado de Ong, “ mas nos epigenéticos é possível interferir com mais facilidade, inclusive com a administração de fármacos e de substâncias químicas que podem estar em alimentos”.

Ambiente e genes

Segundo o professor Ong, os pesquisadores da área de nutrição e câncer foram muito afetados pelo sucesso do Projeto Genoma, em 2003. “Numa era pós-Genoma, começamos a perceber que há uma enorme variação genética entre os indivíduos”, diz Ong, “e essas variações genéticas, podem contribuir com o maior ou menor risco para o desenvolvimento do câncer”. Contudo, o genoma também responde a fatores ambientais, como a alimentação, e o desenvolvimento do câncer passa por essa interação.

O professor explica que um conceito fundamental é o da interação gene-nutriente. A maior parte dos cânceres é resultado de problemas em vários genes, que podem ter alterações herdadas ou induzidas, mutações e alterações epigenéticas. Mas é preciso considerar o fator ambiente também. “A doença não é decorrência exclusiva dos genes ou do ambiente, mas sim da interação entre esses dois fatores”, assinala Ong.

Tal assunto tem despertado tanto a atenção da comunidade científica que foi criada recentemente uma disciplina chamada Nutrigenômica, que estuda o impacto da interação gene-nutriente e sua relação com o desenvolvimento de doenças não-transmissíveis, como o câncer. Um dos objetivos mais ambiciosos que se vislumbram com base nesses conhecimentos é o estabelecimento de uma alimentação personalizada com base no DNA. “No futuro, imaginamos que seja possível adentrar numa era de possível customização da nutrição”, diz Ong. Dependendo das suas características genéticas, indivíduos podem ter necessidades nutricionais diferentes e um maior ou menor risco de desenvolver câncer.

O Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental foi um dos primeiros da USP a contratar um docente cuja pesquisa estivesse ligada ao estudo da Nutrigenômica, o professor Thomas Ong. Em decorrência disso, uma das primeiras disciplinas sobre esse assunto ministradas para a pós-graduação é oferecida na unidade.

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