São Paulo (AUN - USP) - A grande ambição da rede de televisão árabe Al Jazeera é inverter o fluxo de notícias predominante no mundo: a informação não deve vir somente no sentido norte-sul. Foi o que disse Montaser Marai, diretor do canal de documentários da emissora. Em palestra na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP), o jornalista discorreu sobre a mudança de olhar sobre o Oriente Médio e as posições da Al Jazeera que, segundo ele, defende pessoas, não regimes.
Criada em 1997, a emissora surgiu no Qatar a fim de tornar aquele país uma referência cultural na região. Até então, as notícias que chegavam até o Oriente eram quase que exclusivamente produtos da inglesa BBC e da americana CNN. Pouco depois de sua estréia, a Al Jazeera chamou atenção por uma liberdade de expressão e oposição que não era comum no mundo árabe. Quase dez anos após sua criação, o canal ganha sua versão em inglês de alcance mundial.
Nessa nova conjuntura é que se encaixam as declarações de Marai. O objetivo da emissora é fazer com que o mundo, acostumado com a visão de Londres ou Washington, veja um Oriente Médio livre de clichês. Segundo o jornalista, ele estava “cansado de ver filmes norte-americanos falando sobre árabes”, era o momento de eles próprios falarem sobre si. Entretanto, não deve se limitar esse novo ponto de vista a seu povo. A meta é que a Al Jazeera represente os países do Sul subdesenvolvido, mudando o fluxo comum de informações que normalmente partem do norte.
Montaser Marai diz que o compromisso da emissora é a busca pela verdade, apesar de salientar que não existe uma imparcialidade completa no jornalismo. O desejo é que com essa inversão de sentido apareçam novas visões, novos olhares sobre culturas tão distintas - algo que não se relacione com governos e sim com a cultura, com as pessoas. O jornalista conclui afirmando que espera ver mais canais como a Al Jazeera e complementa com a frase: “Não ande com rebanhos, seja diferente”.