São Paulo (AUN - USP) - “Não dá para pensar convergência como economia de custo”, foram as palavras da professora do curso de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes, ECA-USP, Beth Saad. Ao realizar uma análise sobre a convergência das redações jornalísticas no Brasil e no mundo, a professora deixou bem claro que não é somente uma questão de reunir profissionais numa “sala grande”. A principal questão levantada pela é a “convergência de competências”. Para exemplificar, foi analisado o case do Grupo Estado.
Esse grupo reúne os diários O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, a Agência Estado, Portal Limao.com, site Estado.com, AE Investimentos, TV Estado e a Rádio Eldorado. São 4.853 profissionais entre jornalistas, administradores, estagiários, e outros, segundo o Relatório de Responsabilidade Corporativa de 2008. Como integrar toda essa equipe para obter melhores resultados e coberturas mais coesas?
A convergência no Estadão está pautada por dois principais projetos: o Projeto Rumos e o Projeto Fases. Eles visam à integração entre papel e internet e à revisão de processos de trabalho. Além disso, é com base nesses dois projetos que é possível um planejamento conjunto, adequando recursos pessoais para grandes coberturas.
Um exemplo prático desse planejamento e ação convergente foi a cobertura das Olimpíadas de Pequim, em 2008. Foram enviados nove jornalistas de texto e três fotógrafos à China enquanto, aqui no Brasil, mais de 60 pessoas auxiliavam na produção de conteúdo para todos os veículos do grupo. Outro exemplo foi a Copa das Confederações, na qual um repórter do Estadão, da área de impresso, e outro do Jornal da Tarde eram responsáveis pela cobertura para diferentes veículos e em diferentes suportes multimidiáticos.
O contrário acontece no grupo Folha. Impresso, Folha.com e UOL, cada um manda seus próprios profissionais para realizar uma cobertura, tornando discursos no mesmo grupo diferentes e desconexos. Foi o que ocorreu com a repercussão do caso da pichadora na Bienal de Arte. Matérias do on-line elogiaram a atitude, enquanto o impresso a considerou uma vândala.
O editor-executivo do portal Estado.com, Pablo Pereira, em entrevista, disse: “No grupo Estado, a convergência é fruto de um planejamento metódico e rigoroso”. Ele também falou que já houve tentativas de juntar fisicamente as redações, mas que isso nunca funcionou. O que realmente deu certo foi o planejamento conjunto e a criação da Central de Notícias.
A Central foi criada ano passado e é uma espécie de “rádio-escuta moderna”, segundo o diretor de conteúdo, Ricardo Gandour. São 21 jornalistas que, durante 24 horas por dia, estão atentos às principais notícias publicadas na internet, rádio e TV. Segundo Gandour, a Central continua o trabalho de integração e serve de apoio para todos os veículos do grupo, produzindo, desde pequenas notas, que servem de auxílio aos pauteiros, a material multimidiático.
E como essa integração influencia efetivamente o trabalho do repórter? Segundo Lourival Sant’Anna, enviado especial do Estado, a vários países, “quando você obriga o repórter a produzir para diferentes meios, perde qualidade, porque ele não se concentra em um só meio e reduz seu nível de atenção para cada linguagem”. O jornalista disse, em entrevista, que produz alguns filmes e fotos, mas que, apesar disso, nunca sai pautado para produzir para diferentes mídias. Segundo Lourival, ninguém no jornal sai.
O enviado especial mostra que há uma visão multimídia entre os repórteres do grupo Estado, mas que o diferencial é não obrigá-los a produzir para diversas mídias. O caminho é o planejamento e a cooperação e integração entre toda a equipe.