São Paulo (AUN - USP) - A ingestão de chumbo durante a infância pode ser uma das causas de delinquência juvenil, conforme estudos realizados em todo o mundo e continuados por um grupo de pesquisas do Instituto de Química (IQ) e da Escola de Saúde Pública da USP, liderado por Etelvino Bechara e Wanda Gunther. O metal pode ser ingerido de diversas formas pelas crianças, causando uma intoxicação ainda mais acelerada do que nos adultos. O envenenamento de pessoas por chumbo poderia ser evitado com ações educativas e preventivas razoavelmente simples que, no entanto, não fazem parte das políticas públicas.
De acordo com a pesquisa, existe uma alta probabilidade de que muitos jovens delinquentes sejam, na verdade, vítimas de envenenamento por chumbo durante longos períodos de suas infâncias, e não de fatores genéticos ou sociais. O chumbo, conhecido por seus devastadores efeitos tóxicos, age sobre varias áreas do cérebro das crianças e leva a déficits de desempenho intelectual e a altos níveis de agressividade.
Além do cérebro, o chumbo também afeta os rins, o fígado, o sangue e os testículos, causando distúrbios de aprendizado, atenção, memória, sociabilidade, anemia, nefropatias, esterilidade e encefalopatias, de acordo com o nível de envenenamento pelo metal.
A exposição dos seres humanos ao chumbo pode acontecer de diversas formas, como inalação, ingestão e contato com a pele. Ele pode ser ingerido diretamente através do consumo de água contaminada e indiretamente através da alimentação baseada em carne, plantas e seus derivados provenientes de regiões onde há contaminação do meio ambiente com chumbo. O metal também pode ser encontrado em baterias, soldas, plástico e tinta domiciliar, além de estar presente em diversos utensílios domésticos.
Segundo os pesquisadores, há uma grande necessidade por políticas de saúde pública para prevenir o envenenamento por chumbo, diminuindo danos e perdas tanto no nível individual quanto no social. Há pesquisas, realizadas nos Estados Unidos, que indicam a correlação do chumbo em materiais particulados no ar e índices de criminalidade contra a pessoa e contra o patrimônio. De acordo com Bechara, isso evidencia a urgência de políticas públicas que estabeleçam limites toleráveis de contaminação e programas que previnam o que se reconhece hoje como "pandemia de chumbo".
De acordo com uma análise do Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos, a diminuição da quantidade de casas velhas pintadas com tintas a base de chumbo custaria 33,7 bilhões de dólares, enquanto a economia com custos de cuidados na área da saúde e o aumento de renda decorrente do aumento de Q.I. da população seria de cerca de 61,7 bilhões de dólares. Isso demonstra o ganho também financeiro que políticas públicas de prevenção trariam.