ISSN 2359-5191

28/09/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 63 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Estudiosos do GESP comentam protesto de Heliópolis

São Paulo (AUN - USP) - Poucas semanas depois do protesto de moradores da favela de Heliópolis, ocorrido no dia 1º de setembro na zona sul de São Paulo, contra a morte de uma estudante de 17 anos, em que a Polícia Militar (PM) apontou o episódio como uma manifestação organizada por traficantes, a reportagem da Aun resolveu ouvir a opinião de especialistas ligados ao Grupo de Estudos sobre São Paulo (GESP), do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas (FFLCH) da USP.

O objetivo do grupo é refletir sobre a reprodução do espaço urbano em São Paulo, discutindo tanto a propriedade da terra na cidade e sua valorização, como a segregação sócio-espacial vigente. “O tráfico de drogas é extremamente rentável e, assim como o capital financeiro, o narcotráfico precisa dominar para sobreviver” afirma Rafael Padua, um dos integrantes do GESP e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da USP.

De acordo com Fabiana Valdoski, também do GESP e pós-graduanda em Geografia Humana pela USP, “há um jogo de poder muito forte (dentro das favelas) e muitas vezes a população não consegue fazer frente para além do narcotráfico ou da polícia”, o que, segundo a pesquisadora, se configura em uma segregação política dos habitantes das favelas. “Ocorre não só uma segregação sócio-espacial, como também uma segregação política, que mina espaços de politização e sociabilidade nas favelas”.

Mesmo não excluindo uma possível participação do narcotráfico nos protestos, ambos estudiosos concordam que a abordagem dada à manifestação em Heliópolis entra na lógica da criminalização dos movimentos sociais. “Quando a população se manifesta será que não existe realmente medo e indignação com a situação em que vivem?”, reflete Rafael Padua. “Sem o tráfico, os moradores também não têm liberdade, já que muitas vezes são os traficantes que provêem as necessidades dessas pessoas, o que torna o espaço produto da organização social vigente” afirma.

Urbanização das favelas
Segundo Fabiana Valdoski, cujo objeto de estudo é a regularização fundiária nas gestões Marta Suplicy e Gilberto Kassab, existe em São Paulo, no que se refere às iniciativas de urbanização das favelas, um processo de expulsão contínua de seus habitantes. “Quando você incorpora um espaço periférico e a periferia deixa de ser periferia para se tornar um local atrativo, há uma re-atualização dos processos de segregação sócio-espacial através de mecanismos de expulsão”.

Fabiana diz que os mecanismos de expulsão são dois: a expulsão literal e a chamada expulsão “branca”, isto é, quando há o deslocamento dos habitantes das favelas para áreas em que os custos para sobreviver são maiores, com taxas mais altas de condomínio, luz ou água, impossíveis de serem pagas por essa população.

Para a pesquisadora, lutar pela urbanização das favelas é uma forma de resistência, entretanto, é necessária a participação ativa dos moradores nesses processos. Caso contrário, a urbanização entra no discurso de “habitações subnormais”, como reitera Sávio Miele, também pesquisador do GESP.

“O discurso para retirada das favelas apóia-se na classificação de ‘habitações subnormais’ para limpar os terrenos, configurando-se, na verdade, em uma estratégia para a reprodução dos grandes empreendedores e do Estado na construção de vias e avenidas.” De acordo com Sávio, não existe, em São Paulo, um projeto para pensar a metrópole, há apenas preocupações com a abertura de vias e valorização de eixos da cidade.

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