São Paulo (AUN - USP) - O governo brasileiro garante que o petróleo da camada pré-sal é a “riqueza do país” e pede urgência na votação do marco regulatório. No entanto, para o professor Reinaldo Bazito do Instituto de Química (IQ) da USP, o Planalto ignora que os desafios tecnológicos são extremos e que o risco de extração é muito grande. “Há uma antecipação das coisas que não deveria existir. Esse ou até outro governo faz uso político do pré-sal e deixa a questão técnica de lado”, diz Bazito.
“Primeiro, tem de vencer uma camada de dois a três quilômetros de água. Depois, mais três quilômetros de rocha, sedimento e sal”, afirma o pesquisador. “O peso de um equipamento que tenha seis quilômetros de profundidade é bastante elevado e pode não se sustentar”, indica. Outra dificuldade, de acordo com o professor, se refere ao fato do sal ser um elemento fluido. “Ao perfurar um poço em rocha, ele permanece aberto. Já um poço em sal tende a fechar”, diz.
Ao propor a mudança do sistema de concessão para o de partilha, no qual o Estado tem maior participação, a atual gestão ressalta a necessidade de garantir à sociedade uma maior parcela dos lucros obtidos com a descoberta. No entanto, a perspectiva de riscos e, conseqüentemente, de prejuízo, é alta. Como exemplo, Bazito lembra que o único poço pré-comercial de pré-sal, explorado no Campo Petrolífero de Tupi, localizado na bacia de Santos, rendeu muito menos do que a Petrobras esperava. Houve menor quantidade da produção de barris e corrosão do equipamento durante a extração. O poço está em uma camada mais fina do que o principal e, portanto, deveria representar menor dificuldade.
Ainda que o governo cite a exclusividade do Brasil no pré-sal, Bazito ressalta que é possível especular a existência de petróleo dessa camada em outras partes do mundo. “A camada do pré-sal não é exclusividade brasileira”, informa. O motivo para não divulgar as descobertas estrangeiras estaria relacionado ao risco e aos elevados custos de sua exploração, fatores que não compensam, em vista das reservas já existentes. “O próprio custo de exploração de um poço numa profundidade dessas é muito alto, estima-se que seja dez vezes maior que o custo de um poço de água profunda”.
Além dos riscos econômicos, resultado de dificuldades tecnológicas, os riscos que envolvem impacto ambiental também poderiam ser intensificados na extração do pré-sal. Além dos mesmos perigos no processo de extração em água profunda, como vazamento de petróleo no fundo do mar e entupimento de poço, pode-se enfrentar ainda uma série de problemas desconhecidos. “A tecnologia para encarar esse desafio ainda não está madura”, afirma o especialista.
Apesar da descoberta de novos poços no Brasil e da possibilidade de exploração de áreas petrolíferas em países diferentes, Bazito afirma que o petróleo continua sendo um recurso limitado e ressalta o uso do combustível como agravante para o aquecimento global, sendo necessária sua substituição por meio do desenvolvimento de fontes alternativas de energia.